sexta-feira, 23 de agosto de 2013

The inevitability of sea level rise

Abaixo, no original em inglês, artigo postado no Real Climate.


Guest post by Anders Levermann [via The Conversation]
Small numbers can imply big things. Global sea level rose by a little less than 0.2 metres during the 20th century – mainly in response to the 0.8 °C of warming humans have caused through greenhouse gas emissions. That might not look like something to worry about. But there is no doubt that for the next century, sea level will continue to rise substantially. The multi-billion-dollar question is: by how much?
The upper limit of two metres that is currently available in the scientific literature would be extremely difficult and costly to adapt to for many coastal regions. But the sea level will not stop rising at the end of the 21st century. Historical climate records show that sea levels have been higher whenever Earth’s climate was warmer – and not by a couple of centimetres, but by several metres. This inevitability is due to the inertia in the ocean and ice masses on the planet. There are two major reasons for the perpetual response of sea level to human perturbations.
One is due to the long lifetime and warming effect of carbon dioxide in the atmosphere. Once emitted carbon dioxide causes warming in the atmosphere over many centuries which can only be reduced significantly by actively taking the greenhouse gas out again. This is because both the amount of heat and carbon dioxide the ocean can absorb is reduced, and so the temperature stays up for centuries or even millennia. Of course, not cutting emissions would exacerbate the problem even further.
The other reason is that both the ocean and the ice masses are very big and a warming of the surrounding atmosphere will only penetrate slowly, but inevitably, into them. As a consequence their sea level contribution continues even if the warming does not increase. Sea level rise over the last century has been dominated by ocean warming and loss of glaciers. Our recent study indicates that the future sea level rise will be dominated by ice loss from the two major ice sheets on Greenland and Antarctica – slumbering giants that we’re about to wake.
levermann2013
Graph: Sea level rise contributions over 2000 years from: ocean warming (a), mountain glaciers (b), Greenland (c) and Antarctic (d) ice sheets. The total sea level commitment (e) is about 2.3m per degree of warming above pre-industrial.

It is easier to understand a future world that has adjusted to a new equilibrium of higher temperatures than it is to understand the dynamic (perhaps rapid) transition from today’s world to a warmer one. That is why we used physical models for the ocean, the mountain glaciers and the big ice sheets to compute how the systems would be different if the world was warmer.
What we found was that for each degree of global warming above pre-industrial levels the ocean warming will contribute about 0.4 metres to global mean sea-level rise while Antarctica will contribute about 1.2 metres. The mountain glaciers have a limited amount of water stored and thus their contribution levels off with higher temperatures. This is over-compensated for by the ice loss from Greenland, so that in total sea level rises quasi-linearly by about 2.3 metres for each degree of global warming (see figure).
How fast this will come about, we do not know. All we can say is that it will take no longer than 2,000 years. Thus the 2.3 metres per degree of warming are not for this century. They need to be considered as our sea level commitment – the sea level rise that cannot be avoided after we have elevated global temperatures to a certain level.
Ben Strauss of Climate Central has considered the different possible future pathways that society might take and computed which US cities are at risk in the long-term. He poses the question as to what year, if we continue with greenhouse emissions at current rates, we will have caused an inevitable sea level rise that puts certain cities at risk.
According to his analysis, within the next few years Miami in Florida will be committed to eventually lie below sea level, while our future actions can still decide on whether we want to one day give up cities such as Virginia Beach, Sacramento, Boston, Jacksonville or New York City.
This is a decision society has to take for future generations. We will need to adapt to climate change in any case, but some things we will not be able to adapt to. Society needs to decide whether we want to give up, for example, the Tower of London, or to put the breaks on climate change so that we don’t have to.
Weblink: The New York Times has a good current article on this issue.
Anders Levermann is department head at the Potsdam Institute for Climate Impact Research, Germany

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

UFRN abre Concurso para Docente


Agrometeorologia e Sensoriamento Remoto* 


CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS PARA O CARGO DE PROFESSOR DO MAGISTÉRIO SUPERIOR NA CLASSE “A” PARA AS ÁREAS DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA (CCET) E TECNOLÓGICAS (CT) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
EDITAL No 030/2013

As inscrições serão feitas, exclusivamente, via internet, a partir da 00h01 do dia 02 de setembro de 2013 até às 23h59 do dia 20 de setembro de 2013

01 Vaga para a área de Agrometeorologia e Sensoriamento Remoto

Adjunto-A/DE. Graduação em Meteorologia ou em Agronomia ou em áreas correlatas e Doutorado em Meteorologia ou em áreas afins.
 
 

Minicurso sobre Química da Atmosfera

Na próxima semana, nos dias 28 e 29 de agosto, na parte da manhã, teremos um minicurso sobre Química da Atmosfera, no Anfiteatro B do CCET para todos os discentes e docentes da Pós Graduação em Ciências Climáticas (PPGCC) e áreas afins.
O curso está sendo organizado à curto prazo, aproveitando a visita de professores, membros da comissão organizadora da conferência grande do IGAC/iCACGP-2014 que teremos aqui em Natal no próximo ano. Os professores irão participar da reunião da comissão organizadora do evento e se disponbilizaram em apresentar de forma didática os seus focos de trabalho na área de química da atmosfera.

Por favor confirmem a participação com a secretaria do PPGCC () até terça-feira, dia 27.

Segue a programação prevista do mini-curso:

quarta-feira, dia 28/08:
08:15 - 08:30 - Introdução ao curso e apresentação dos palestrantes (Judith Hoelzemann)
08:30 - 10:00h - Aula 1 - " tema a definir" (Dr. Laerte de Castro, CT-Gás, Natal)
10:00 - 10:30h - intervalo / coffee break
10:30 - 12:00 - Aula 2  - "Efeitos da poluição atmosférica à saúde humana – Estudos realizados no Brasil" (Profa. Eliane Ignotti / UNEMAT, Mato Grosso)

quinta-feira, dia 29/08:
08:30 - 10:00h - Aula 3 - "Aerossóis, amostragem, qualidade do ar em ambientes fechados e efeitos na saúde" (Profa. Adriana Gioda / PUC-Rio)
10:00 - 10:30h - intervalo / coffee break
10:30 - 12:00 - Aula 4 - "Radiação atmosférica e aplicação em modelos" (Prof. Henrique Barbosa, USP-IF).
12:00 - 12:15 Encerramento (Judith Hoelzemann + palestrantes) .



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Extremos de Clima III

A favor de uma rede de dados ambientais
Para o físico Paulo Artaxo, da USP, um dos maiores especialistas no processo de formação de aerossóis, o primeiro relatório do PBMC servirá para o Brasil identificar áreas ainda carentes em termos de pesquisa, além de fornecer um panorama sobre os estudos a respeito das mudanças climáticas. “Temos um longo caminho a percorrer”, afirma Artaxo, membro do conselho diretor do PBMC. “O IPCC tem 20 anos e está indo para seu quinto relatório. Ainda não temos massa crítica de cientistas e falta gente para tocar algumas áreas importantes.” O físico alerta que o Brasil ainda não conta com uma rede nacional para coleta sistemática de dados ambientais mais sofisticados do que somente medidas de temperatura e pluviosidade. Na Amazônia há 12 torres que registram as trocas de carbono e energia entre a floresta e a atmosfera e medem propriedades de outros ciclos biogeoquímicos, uma iniciativa mantida pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), uma bem-sucedida parceria que há mais de duas décadas une pesquisadores do país e do exterior. Fora da região Norte existem poucas torres no território brasileiro, entre as quais uma no pantanal, outra no cerrado, uma terceira nos pampas e uma no interior paulista. “Essa estrutura de pequena escala não permite fazer uma radiografia nacional, por exemplo, das emissões e da captura de C02 atmosférico”, diz Artaxo. “Na Europa e Estados Unidos há centenas de torres que fornecem uma radiografia do que está acontecendo com o funcionamento dos ecossistemas em decorrência das mudanças climáticas.”
Para o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI e presidente do PBMC, os dados disponibilizados pelo Painel Brasileiro servem para guiar as políticas públicas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas. “O trabalho do painel não se encerrará com esse primeiro relatório de avaliação, mas continuará e se tornará cada vez mais relevante”, afirma Carlos Nobre.

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP

Extremos de Clima II

Um modelo climático brasileiro
A divulgação do relatório do PBMC marca a incorporação de uma sofisticada ferramenta para melhorar o entendimento do clima e fazer projeções no país. O Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (Besm, na sigla em inglês) é um conjunto de programas computacionais que permite simular a evolução dos principais parâmetros do clima em escala global. “O Brasil é hoje o único país do hemisfério Sul a contar com um modelo próprio”, diz Paulo Nobre, do Inpe, um dos coordenadores do Besm. “Isso nos dará uma grande autonomia para realizar as simulações que sejam de nosso maior interesse.” Com o Besm podem ser feitas, por exemplo, projeções sobre prováveis efeitos no clima no Brasil ocasionados por alterações na circulação oceânica do Atlântico Tropical e nos biomas do país. A Austrália também estava criando um modelo climático próprio, mas preferiu juntar seus esforços aos do Centro Hadley, do Reino Unido. O modelo brasileiro está sendo desenvolvido desde 2008 por pesquisadores de diversas instituições que integram o Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), a Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC).
Como qualquer programa de computador, o Besm é uma obra aberta, a ser aprimorada continuamente. Sua construção visa não somente a dotar o país de um modelo que seja o estado da arte para representar o sistema terrestre, mas também contribuir para a formação de uma nova geração de cientistas capazes de manejar um poderoso instrumento dedicado à previsão climática. A versão atual do Besm – que roda no supercomputador Tupã da Rede Clima/PFPMCG, instalado na unidade do Inpe de Cachoeira Paulista – já permite reproduzir vários fenômenos do clima global e regional e prever cenários futuros. O modelo consegue, por exemplo, reconstituir a ocorrência dos últimos El Niños e estimar o retorno desse fenômeno climático. O El Niño é o aquecimento anormal das águas superficiais do Pacífico Equatorial, uma alteração oceânica e atmosférica que afeta o regime de chuvas em boa parte do planeta. No Brasil tende a provocar secas na Amazônia e no Nordeste e intensificar a pluviosidade no Sul. Simulações feitas com o Besm mostraram que o hipotético desmatamento total da Amazônia aumentaria a intensidade dos El Niños e reduziria a precipitação anual sobre a região Norte em até 40%. Os cenários climáticos gerados pelo Besm foram aceitos neste ano pela iniciativa internacional que reúne os dados produzidos pelos 20 modelos globais até agora desenvolvidos, a fase 5 do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (CMIP5, na sigla em inglês). Eles inauguram a participação do Brasil no IPCC como nação fornecedora de projeções em escala planetária das mudanças climáticas. As projeções geradas pelo modelo nacional serão utilizadas para a elaboração do quinto relatório sobre mudanças climáticas do IPCC.
O Besm ainda não fornece cenários tão detalhados como os gerados por outros modelos globais e mesmo pelo modelo regional do Inpe, que enfoca o clima na América do Sul e serviu de base para boa parte das projeções do primeiro relatório do PBMC. Sua resolução espacial é de 200 por 200 quilômetros, enquanto a do modelo regional do Inpe, que por ora roda “dentro” do modelo global do Centro Hadley, é usualmente de 40 por 40 quilômetros e pode chegar a 5 por 5 quilômetros. Apesar de estar em seus primórdios, o Besm já produz simulações que traçam um panorama das variações climáticas previstas para ocorrer no Brasil nos próximos 30 anos. Pesquisa FAPESP publica em primeira mão os resultados de uma simulação inédita que mostra como a temperatura média anual da atmosfera pode variar em todos os estados do país até 2035, com base nos primeiros resultados da versão mais recente do modelo Besm. Os dados indicam um Brasil mais quente em quase todas as latitudes. “Esse é o primeiro resultado de cenário de aquecimento global futuro realizado integralmente no país, sem depender das simulações obtidas por modelos de outros países”, comenta Paulo Nobre, também um dos autores do RAN1.
Se a taxa de CO2, principal gás responsável por intensificar o efeito estufa, mantiver a tendência atual e atingir os 450 ppm daqui a três décadas, a temperatura média anual na maior parte do território nacional, em especial nas áreas mais distantes da costa, deverá se elevar até 1ºC. Apenas no Sul do país e em áreas setentrionais da região Norte a temperatura apresenta tendência a se manter estável ou até diminuir ligeiramente. “Esse resultado inicial leva em conta as contribuições das tendências de ajuste de longo tempo da circulação oceânica global e do aquecimento atmosférico decorrente do aumento moderado de CO2 em escala planetária”, explica Paulo Nobre. “São resultados preliminares. Precisamos rodar o modelo mais vezes para ter um grau maior de confiabilidade dos resultados e, assim, podermos falar mais especificamente de tendências climáticas para um estado ou uma área menor.”
As previsões do Besm para a parte mais meridional do país são as únicas que não concordam totalmente com as feitas pelo modelo regional do Inpe, que projeta uma discreta elevação de temperatura na região Sul até 2040. Até o final do século, no entanto, a maioria das projeções sinaliza que o Rio Grande do Sul vai seguir a mesma tendência das demais partes do país e se tornar mais quente. Com o aumento contínuo do CO2, a passagem do tempo faz os modelos registrarem uma elevação progressiva das temperaturas e exacerba a possibilidade de ocorrer mais ou menos chuva numa região.

Fonte: Revista FAPESP

Extremos do clima I

Os cientistas familiarizados com a obra do historiador inglês marxista Eric Hobsbawm, falecido no ano passado, bem que poderiam tomar emprestado o título de seu livro dedicado às transformações político-econômicas do século XX e empregá-lo para descrever o cenário climático previsto para o Brasil das próximas décadas. Se o assunto são as mudanças climáticas, a era dos extremos (nome do livro de Hobsbawm) apenas se iniciou e, segundo os pesquisadores, veio para ficar por um bom tempo. Em razão do aumento progressivo da concentração de gases de efeito estufa – em maio passado, os níveis de dióxido de carbono (C02) atingiram pela primeira vez na história recente da humanidade as 400 partes por milhão (ppm) – e de alterações na ocupação do uso do solo, o clima no Brasil do final do século XXI será provavelmente bem diferente do atual, a exemplo do que deverá ocorrer em outras partes do planeta.
As projeções indicam que a temperatura média em todas as grandes regiões do país, sem exceção, será de 3º a 6ºC mais elevada em 2100 do que no final do século XX, a depender do padrão futuro de emissões de gases de efeito estufa. As chuvas devem apresentar um quadro mais complexo. Em biomas como a Amazônia e a caatinga, a quantidade estimada de chuvas poderá ser 40% menor. Nos pampas, há uma tendência de que ocorra o inverso, com um aumento de cerca de um terço nos índices gerais de pluviosidade ao longo deste século. Nas demais áreas do Brasil, os modelos climáticos também indicam cenários com modificações preocupantes, mas o grau de confiabilidade dessas projeções é menor. Ainda assim, há indícios de que poderá chover significativamente mais nas porções de mata atlântica do Sul e do Sudeste e menos na do Nordeste, no cerrado, na caatinga e no pantanal. “Com exceção da costa central e sul do Chile, onde há um esfriamento observado nas últimas décadas, estamos medindo e também projetamos para o futuro um aumento de temperatura em todas as demais áreas da América do Sul”, diz José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que trabalha com projeções futuras a partir de modelos regionais do clima. “A sensação é de que as estações estão meio ‘loucas’, com manifestações mais frequentes de extremos climáticos.”
A expressão significa que os brasileiros vão conviver tanto com mais períodos de seca prolongada como de chuva forte, às vezes um após o outro. Isso sem falar na possibilidade de aparecimento de fenômenos com grande potencial de destruição que antes eram muito raros no país, como o furacão Catarina, que atingiu a costa de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul em março de 2004. Nas grandes áreas metropolitanas, e mesmo em cidades de médio porte, o avanço do concreto e do asfalto intensifica o efeito ilha urbana de calor, tornando-as mais quentes e alterando seu regime de chuvas.
© JEFF SCHMALTZ, MODIS RAPID RESPONSE TEAM, NASA / GSFC 
Imagem de satélite do furacão Catarina perto da costa da região Sul: fenômeno bem raro no país
Imagem de satélite do furacão Catarina perto da costa da região Sul: fenômeno bem raro no país
Esse quadro faz parte do mais completo diagnóstico já produzido sobre as principais tendências do clima futuro no país: o primeiro relatório de avaliação nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), criado em 2009 pelos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Entre 9 e 13 de setembro, o relatório será divulgado durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais, organizada pela FAPESP. Concebido nos moldes do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) das Nações Unidas, que, aliás, vai divulgar a primeira parte de seu quinto relatório no final de setembro, o PBMC reuniu 345 pesquisadores de diversas áreas para formular uma síntese inédita do estado da arte da produção científica nacional sobre o tema.
O RAN1 é dividido em três partes, cada uma elaborada por um grupo de trabalho distinto. A primeira traz as principais conclusões de estudos feitos entre 2007 e o início deste ano que mostram a ocorrência das mudanças climáticas no Brasil. A segunda detalha os impactos das alterações climáticas no país, realçando vulnerabilidades e medidas de adaptação à nova realidade. A terceira indica formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa no território nacional (ver reportagem na página 22 sobre a segunda e a terceira partes do documento). “Fizemos uma compilação crítica dos dados produzidos pelos estudos mais recentes”, explica o meteorologista Tércio Ambrizzi, da Universidade de São Paulo (USP), um dos coordenadores do primeiro grupo de trabalho do PBMC sobre a produção científica nacional. “Há regiões do país, como o Centro-Oeste, sobre as quais quase não há estudos. Também temos pouca pesquisa sobre o paleoclima no Brasil.”
A maioria dos trabalhos sobre esse tema analisa o pólen fossilizado de plantas do território nacional e apresenta datação de qualidade irregular, segundo os especialistas. “Pesquisas sobre como era o clima do passado na costa do Atlântico em torno do Brasil são ainda mais raras”, afirma o paleoceanógrafo Cristiano Chiessi, da USP Leste, um dos autores do relatório. “Precisamos investir nesse tipo de estudo para sabermos o que é variação natural do clima e o que é decorrente da ação humana.”

Fonte: Revista FAPESP

Barco Alpha Delphini é inaugurado em Santos

Por Elton Alisson, de Santos
Agência FAPESP – Foi inaugurado oficialmente, no dia 12 de agosto, no porto de Santos, no litoral de São Paulo, o barco oceanográfico Alpha Delphini. A inauguração contou com a presença de Celso Lafer, presidente da FAPESP, e de João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo (USP), entre outras autoridades, além de pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO), da USP.
Construído inteiramente no Brasil, o barco integra um projeto submetido à FAPESP pelo IO no âmbito do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU). A embarcação foi construída com o objetivo de aumentar a capacidade de pesquisa em Oceanografia no Estado.
Outra iniciativa do IO, nessa mesma linha, foi a aquisição do navio oceanográfico Alpha Crucis, inaugurado em maio de 2012, que já fez até agora sete cruzeiros, incluindo de testes e para fins de pesquisa.
“O Alpha Delphini complementa o Alpha Crucis e supre uma carência que tínhamos desde a interrupção das operações do navio Professor W. Besnard, porque tem autonomia equivalente à dele, mas com custo menor e maior possibilidade de realização de manobras marítimas”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, diretor do IO-USP, à Agência FAPESP, durante a inauguração.
A paralisação do navio Professor W. Besnard – utilizado de 1967 até 2008, quando sofreu um incêndio e ficou sem condições operacionais de pesquisa – limitou drasticamente os estudos oceanográficos no Estado de São Paulo.
A fim de superar esse entrave, os pesquisadores do IO-USP submeteram quase que ao mesmo tempo as propostas de aquisição do Alpha Crucis e do Alpha Delphini à FAPESP, por se tratar de embarcações complementares.
“Quando os professores da USP apresentaram à FAPESP as propostas para a construção do Alpha Crucis e do Alpha Delphini, a Fundação se dispôs, imediatamente, a apoiar os dois projetos por entender sua a importância para o avanço da pesquisa em Oceanografia no Estado de São Paulo”, disse Lafer.
Na inauguração no Porto de Santos, o barco Alpha Delphini, o navio Alpha Crucis e o Professor W. Besnard foram ancorados lado a lado no armazém número oito.
Mahiques explicou que o Alpha Delphini tem autonomia e capacidade de pesquisa intermediária entre as pequenas embarcações e os navios oceanográficos e cobre a área de plataforma continental – que começa na linha da costa e atinge até 200 metros de profundidade.
O custo total do barco foi de R$ 6 milhões. O programa EMU da FAPESP destinou R$ 4,4 milhões para a construção da embarcação. O restante – motores e uma série de equipamentos científicos – foi financiado com recursos do próprio IO-USP.
Sua autonomia de navegação é de 10 a 15 dias, dependendo do número de tripulantes, e ele poderá operar em toda a faixa de 200 milhas marítimas da fronteira litorânea.

Leia mais aqui.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Mudanças climáticas não põem em risco a existência da Terra

Por Elton Alisson, de Recife
Agência FAPESP – O rápido aumento da temperatura da Terra, observado no período atual, representa uma ameaça mais para a humanidade em si do que para o planeta, que já passou e sobreviveu a diferentes períodos de mudanças climáticas.
A avaliação foi feita pelo climatologista Ulrich Glasmacher, professor da Universidade de Heidelberg, da Alemanha, na conferência que proferiu sobre aspectos geológicos e sociais das mudanças climáticas mundiais na semana passada, durante a 65ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Recife (PE).
De acordo com o pesquisador alemão, o planeta experimenta períodos de frio seguidos de ondas de calor há cerca de 450 milhões de anos. “O Cretáceo (há mais de 100 milhões de anos), por exemplo, foi um dos períodos mais quentes da Terra nos últimos 600 milhões de anos”, disse Glasmacher.
Os níveis de emissão de CO2 na atmosfera naquela época também eram muito altos, como pode ser observado em estudos com fósseis de formigas – inseto que respira o ar e, em seguida, expira o oxigênio, retendo um nível muito alto de CO em seu organismo –, explicou o pesquisador.
Há poucos dados, no entanto, sobre a atividade do Sol naquele período, que influencia a temperatura da Terra e poderia fornecer pistas de como será o clima do planeta no futuro, disse Glasmacher. “O que podemos dizer é que, toda vez que houve um período muito frio [de glaciação] na Terra, ele foi sucedido por um período muito quente”, afirmou.
As mudanças climáticas pelas quais a Terra passou, contudo, não colocaram em risco a sua existência e não causaram o desaparecimento em massa de espécies, ressaltou Glasmacher.
Segundo ele, nenhuma das extinções em massa ocorridas no planeta foi causada por mudanças climáticas, mas sim por vulcões, mudanças nas placas tectônicas, meteoritos ou cometas. E, em todos os casos, o planeta sobreviveu.
“Qualquer cenário previsto como fatal para o planeta é mentiroso e tem o objetivo de causar medo. Por mais devastador que as mudanças climáticas possam ser, a vida e o planeta vão sobreviver sem nós, humanos”, disse.
“O planeta fez isso no passado, quando os dinossauros foram extintos, e a vida na Terra continuou nos bilhões de anos seguintes. A questão, agora, é se a humanidade conseguirá sobreviver às mudanças climáticas globais”, ponderou.
Risco de extinção
Na avaliação de Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o risco de as mudanças climáticas causarem o desaparecimento do homem no planeta é, de fato, muito pequeno, uma vez que os humanos desenvolveram capacidades cognitivas que os tornaram uma das espécies mais adaptadas e adaptáveis da Terra.
Além disso, é muito improvável que a concentração de oxigênio no planeta seja modificada nos próximos milhões de anos por efeito das mudanças climáticas, a ponto de ameaçar a vida no planeta.
O problema é que as plantas só conseguem realizar fotossíntese sob uma temperatura de até 48 graus. Se a temperatura média continental atingisse essa faixa, haveria o risco de extinção em massa de espécies por causa da quebra da cadeia alimentar, ressalvou Nobre, que foi o apresentador da conferência de Glasmacher.
“Não que a temperatura média da Terra vá chegar a mais de 40 graus. Mas, se isso acontecesse, haveria o risco de interromper a fotossíntese das plantas e, com isso, o planeta seria muito diferente de hoje, com menos vida e mais desértico – ainda que plantas do deserto façam fotossíntese em um intervalo muito curto de tempo”, disse o pesquisador, que é membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
Segundo Nobre, a maior preocupação sobre os possíveis impactos do aquecimento global observado no período antropocênico atual, contudo, não está relacionada ao valor final da temperatura suportada pelas espécies (48 graus), mas à velocidade com que a mudança está ocorrendo, o que poderá dificultar a adaptação de diversas espécies.
“Ter uma variação de cinco graus na temperatura em 200 anos, como acontece agora no Antropoceno, é algo muito raro e não ocorria há muito tempo. Muitas espécies não têm condições de se adaptar a uma mudança climática tão rápida”, afirmou Nobre.
“Se a temperatura levasse um milhão de anos para subir cinco graus, a extinção de espécies seria pequena. Já se isso acontecer em um período entre 50 e 100 anos a extinção será muito grande. E, se ocorrer em um prazo de 30 anos, 40% das espécies seriam extintas – o que, talvez, não possa ser considerada uma extinção em massa, mas é uma perturbação de uma dimensão que só meteoritos e vulcanismos causaram no passado”, comparou.
Relatório do IPCC
Nobre, que é integrante do grupo 2 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), confirmou que parte do quinto relatório de avaliação do órgão – intitulado AR5 – deverá ser publicado ainda este ano.
“O primeiro relatório, do grupo 1, deve sair ainda este ano, enquanto os relatórios dos grupos 2 e 3 serão divulgados em 2014”, disse Nobre à Agência FAPESP.
“No final de setembro haverá uma reunião para aprovação do Summary for Policymakers”, contou o pesquisador, se referindo a um resumo do relatório, voltado para formuladores de políticas públicas.
O grupo de trabalho 1 avalia os aspectos científicos do sistema climático e o fenômeno das alterações climáticas. Já o grupo de trabalho 2 examina a vulnerabilidade dos sistemas humanos e naturais impactados pelas alterações climáticas, as consequências dessas alterações e busca maneiras de adaptar-se a elas.
O grupo de trabalho 3, por sua vez, avalia o potencial para mitigar alterações climáticas e limitar a emissão de gases do efeito estufa.