A favor de uma rede de dados ambientais
Para o físico Paulo Artaxo, da USP, um dos maiores especialistas no
processo de formação de aerossóis, o primeiro relatório do PBMC servirá
para o Brasil identificar áreas ainda carentes em termos de pesquisa,
além de fornecer um panorama sobre os estudos a respeito das mudanças
climáticas. “Temos um longo caminho a percorrer”, afirma Artaxo, membro
do conselho diretor do PBMC. “O IPCC tem 20 anos e está indo para seu
quinto relatório. Ainda não temos massa crítica de cientistas e falta
gente para tocar algumas áreas importantes.” O físico alerta que o
Brasil ainda não conta com uma rede nacional para coleta sistemática de
dados ambientais mais sofisticados do que somente medidas de temperatura
e pluviosidade. Na Amazônia há 12 torres que registram as trocas de
carbono e energia entre a floresta e a atmosfera e medem propriedades de
outros ciclos biogeoquímicos, uma iniciativa mantida pelo Programa de
Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), uma bem-sucedida
parceria que há mais de duas décadas une pesquisadores do país e do
exterior. Fora da região Norte existem poucas torres no território
brasileiro, entre as quais uma no pantanal, outra no cerrado, uma
terceira nos pampas e uma no interior paulista. “Essa estrutura de
pequena escala não permite fazer uma radiografia nacional, por exemplo,
das emissões e da captura de C02 atmosférico”, diz Artaxo. “Na Europa e
Estados Unidos há centenas de torres que fornecem uma radiografia do que
está acontecendo com o funcionamento dos ecossistemas em decorrência
das mudanças climáticas.”
Para o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e
Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI e presidente do PBMC, os
dados disponibilizados pelo Painel Brasileiro servem para guiar as
políticas públicas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas. “O
trabalho do painel não se encerrará com esse primeiro relatório de
avaliação, mas continuará e se tornará cada vez mais relevante”, afirma
Carlos Nobre.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP
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