Por Fábio de Castro, em 28/05/2012
Agência FAPESP – Os prejuízos causados pelas mudanças
climáticas globais à economia do Estado de Minas Gerais poderão chegar a
R$ 450 bilhões até o ano de 2050. Os efeitos serão mais acentuados nas
áreas mais pobres do estado, ampliando as desigualdades regionais.
As conclusões são de um estudo feito na Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe), em São Paulo, e na Fundação Estadual do
Meio Ambiente (Feam), de Minas Gerais. Para realizar a análise integrada
dos impactos econômicos dos fenômenos climáticos, os pesquisadores
criaram uma nova metodologia que articula as projeções de alterações
climáticas a modelos socioeconômicos.
A pesquisa foi parte do Estudo Econômico das Mudanças Climáticas do
Brasil (EMCB), um consórcio que envolve algumas das principais
instituições de pesquisa do país. A pesquisa foi apresentada no dia 23
de maio na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Em 2009, o EMCB estimou que os prejuízos causados ao Brasil pelas
mudanças climáticas podem chegar a R$ 3,6 trilhões nos próximos quarenta
anos.
Graças à nova metodologia, o estudo realizado tem um grau de
detalhamento muito maior, traçando um quadro geral do futuro da economia
mineira para setores, regiões e microrregiões consistente com as
premissas utilizadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
A nova metodologia foi fruto da tese de livre-docência de Eduardo
Haddad, coordenador-geral do estudo e diretor de Pesquisas da Fipe.
Haddad é professor da FEA-USP, onde defendeu a tese em 2004.
Segundo Haddad, a metodologia – denominada “modelo espacial de
equilíbrio geral computável”– está sendo aplicada em trabalhos sobre
impacto econômico de mudanças climáticas no Brasil e em outras regiões
do mundo, como Áustria, Colômbia, Equador e no arquipélago português dos
Açores.
“Chegamos a um modelo econômico capaz de lidar de maneira consistente
com a integração de modelos de demanda e oferta de energia, de uso da
terra e de produtividade agrícola, que por sua vez são integrados a
modelos climáticos. Desenvolvemos esses modelos no contexto espacial,
incorporando avanços teóricos recentes”, disse Haddad à Agência FAPESP.
Para avaliar os impactos climáticos na economia de Minas Gerais,
foram considerados dois cenários de referência, elaborados com e sem a
ocorrência de mudanças climáticas nos setores de agricultura, pecuária e
energia.
Os pesquisadores geraram dois cenários climáticos alinhados com os
cenários A2 e B2 do IPCC. O cenário A2 considera uma situação com
aumentos de temperatura variando entre 3 e 5 graus Celsius. O cenário B2
projeta um aumento entre 2 e 4 graus.
“Em ambos os cenários, concluímos que as mudanças climáticas terão
impactos negativos muito importantes sobre a economia mineira. Os
impactos climáticos poderão diminuir o PIB estadual entre 1% no cenário
A2 e 2,7% no cenário A1. Com isso, a redução acumulada do PIB do estado
nesse período poderá variar de R$ 155 bilhões a R$ 450 bilhões, a preços
de 2008”, disse Haddad.
Os resultados das simulações sugerem ainda que as mudanças climáticas
podem levar a uma redução significativa das áreas florestais nos
estabelecimentos agrícolas, aumentando a pressão por desmatamento em
Minas Gerais.
O estudo também apontou que as mudanças climáticas deverão provocar
aumento da concentração espacial da atividade econômica, ampliação das
desigualdades regionais, redução do bem-estar nas áreas rurais e aumento
das pressões sobre as aglomerações urbanas.
“O estudo apontou que as mudanças climáticas são uma ameaça maior
para as regiões mais pobres do estado. Os prejuízos ao PIB regional
deverão ser mais altos nessas regiões, intensificando-se ainda mais ao
longo do tempo. As microrregiões do norte de Minas Gerais e do Vale do
Jequitinhonha deverão ser as mais afetadas”, apontou Haddad.
As microrregiões localizadas no noroeste de Minas Gerais, no
Triângulo Mineiro, na Zona da Mata e no sul do estado também deverão
apresentar participação nos custos superiores a suas participações no
PIB do estado, de acordo com o estudo.
Segundo Haddad, as estimativas sobre os impactos das mudanças
climáticas na economia mineira são conservadoras, uma vez que o trabalho
se concentrou nas transformações causadas pelo aumento de temperatura
na variação do regime de chuvas, mas não considerou outras consequências
esperadas, como o aumento de frequência de eventos extremos como
inundações, secas e catástrofes.
No estudo, os pesquisadores sugerem um conjunto de políticas que
podem ser adotadas para impedir os prejuízos previstos. “O estudo
fornece subsídios para políticas públicas de mitigação dos efeitos
econômicos das mudanças climáticas e de promoção de adaptações aos seus
efeitos, que tendem a se intensificar na segunda metade do século. Se
nada for feito, entraremos em uma trajetória desastrosa que levará à
perda de até dois anos de PIB em quatro décadas”, disse Haddad.
Entre outras recomendações, o estudo sugere a canalização de recursos
para a promoção do desenvolvimento das regiões norte e nordeste do
estado, mas com maior foco em projetos que promovam a sustentabilidade
ambiental regional.
Outra recomendação é a criação de políticas de ordenamento de uso de
solo, de modo a garantir o cumprimento das metas de redução de
desmatamento, e o desenvolvimento de tecnologia com vistas à adaptação
dos cultivares a condições climáticas mais adversas, fundamental para
reduzir a vulnerabilidade dos produtores agrícolas.
O estudo está disponível em: