Os países em desenvolvimento precisam fazer adaptações adequadas à sua
realidade socioeconômica para minimizar consequências do aquecimento
global, como a insegurança alimentar. Esse foi um dos pontos abordados
por pesquisadores participantes do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), em entrevista coletiva
na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, nesta
terça-feira (1º).
“Mudanças climáticas contribuem para a redução na produtividade de
culturas integrantes da cesta básica de grande parte dos países em
desenvolvimento, como arroz, milho e soja. Esses governos devem fazer
adaptações adequadas às suas realidades locais – de país para país e de
região para região dentro de um mesmo país”, defendeu o pesquisador José
Marengo, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI) e um dos autores do quinto
relatório do painel intergovernamental, o IPCC-AR5. A apresentação de
hoje focou os resultados do Grupo de Trabalho 2 (GT 2) – Impactos,
Adaptação e Vulnerabilidade.
As políticas públicas devem moldar a demanda dos recursos naturais e
não apenas fazer investimentos para expandir a oferta, ressaltou outra
autora, Carolina Dubeux. Isso significa que o preço deve refletir a
escassez do bem.
“Mas isso deve ser feito de acordo com as características de cada
região. O ajuste do preço da água no Nordeste e no Sudeste deve ser
feito de forma distinta, pois tem de considerar as diferentes condições
socioeconômicas das duas populações”, exemplificou a doutora em
planejamento energético pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ).
Projeções
“Antes, as projeções de cenários de modelos climáticos eram feitas a
partir de modelos globais. Agora, o Brasil está criando suas próprias
previsões, o que coloca o país no mesmo nível de países do primeiro
mundo”, disse o representante do Ministério de Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI), Osvaldo Leal de Moraes, diretor da Secretaria de
Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento.
O aquecimento global, além de abalar a segurança hídrica e a alimentar
no Brasil, impacta a segurança energética, destacaram os participantes.
Na América do Sul, os principais problemas listados são a redução da
produção de alimentos, o aumento de problemas de saúde, a intensificação
de deslizamentos de terra e enchentes.
A contribuição do GT 2
considera a vulnerabilidade e exposição dos sistemas naturais e
socioeconômicos, os impactos observados e os futuros riscos das mudanças
climáticas, analisando seu potencial para adaptação e seus limites.
Os capítulos do relatório do IPCC avaliam riscos e oportunidades para
sociedades, economias e ecossistemas de todo o mundo. Tratam de cada uma
das regiões geográficas do planeta, observando tanto o sistema natural
quanto o humano e abordando o clima do presente e do futuro.
Insumo científico
Estudos como esse devem ser usados como subsídios para negociações
internacionais de redução da emissão de gases responsáveis pelo
aquecimento global, como o dióxido de carbono (CO2). Só a redução da
emissão reduzirá as consequências ambientais e socioeconômicas
apresentadas no documento, reafirmou a apresentação.
O painel aponta questões ambientais, seus riscos e possíveis caminhos,
mas não define políticas públicas, que cabem a cada governo. “Só quando a
população estiver bem informada sobre os temas abordados no IPCC
conseguirá influenciar os formuladores das políticas. Só assim ocorrerá
uma verdadeira mudança”, afirmou o presidente da Academia Brasileira de
Ciências, Jacob Palis.
Texto: Juliana Cariello – Ascom do MCTI
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