O Sudeste, o Centro-Oeste, o Norte e o Nordeste registraram recordes de temperatura nos últimos dias com a bolha de calor estacionada sobre estas regiões. Ela impede a chegada da umidade e consequentemente da chuva. Mas esse é apenas um dos reflexos de um cenário catastrófico já previsto há mais de 20 anos, que hoje, não se trata apenas de uma previsão, mas sim das consequências do desmatamento. O engenheiro agrônomo com doutorado em biogeoquímica planetária do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Antônio Donato Nobre, autor de um estudo chamado Futuro Climático da Amazônia - que deve ser publicado até o final do ano – afirma que a única forma de remediar a situação é adotar uma estratégia de guerra.
“Não quero ser radical, mas quando nós chegamos a esse
ponto, nós precisamos ter um discurso de guerra”, diz comparando a ação
dos governantes frente à crise financeira de 2008, quando foram
investidos trilhões de dólares para salvar bancos privados da crise. “É
uma decisão que precisa ser tomada em 15 dias e não em 15 anos”.
O professor afirma que já vivemos dentro de um desastre,
a exemplo do que ele vê todos os dias pela janela de seu apartamento em
São José dos Campos, “vejo o céu do Saara, nós estamos aqui em um
processo de desertificação, e eu torço para que esteja errado, para que
eu esteja equivocado”.
“Essa onda de destruição tem consequência, agora é a hora da
consequência e nós vamos pagar o preço... mas não são mais os cientistas
ou a sociedade que estão falando isso, agora é o clima que está
falando.... abra a sua torneira e veja se a água está saindo. Esta
demonstração faz com que eu não precise me preocupar em relação sobre se
o que eu estou falando é verídico ou não”.
Nobre explica que a principal causa do que temos
testemunhado no Brasil é efeito do fim das florestas do Sudeste e do
desflorestamento em andamento na Amazônia, que diminuiu a umidade do ar.
Isso faz com que as massas de ar seco fiquem estacionadas, diminuindo
ainda mais a umidade e impedindo as chuvas. A importância das florestas é
tamanha, que um estudo do qual Nobre participou mostrou que a vegetação
amazônica produz mais umidade que o volume de água diário do rio
Amazonas, que é o maior do mundo.
Constatações como essa tem feito com que ele defenda
ações mais urgentes e radicais contra o desmatamento e em favor do
reflorestamento, porque as consequências já estão sendo sentidas.
“Quando a gente está dentro de um desastre, não podemos raciocinar com a
lógica antiga... essa lógica de que ‘será que a Dilma vai concordar’,
não funciona em um desastre. Quando você está em um esforço de guerra é
regime de exceção, de calamidade pública... é minha posição pessoal, mas
é porque não vejo outra saída”, diz.
Ele cita o exemplo do cientista da NASA James Hansen,
um dos maiores nomes no monitoramento de temperatura, que começou a
realizar protestos dizendo que as pessoas soubessem o que ele sabe,
estariam juntos com ele protestando.
“Isto já estava previsto há 20 anos atrás, já estavam gritando na Eco
92 no Rio de Janeiro para ajudar a humanidade. É grave a situação, é
gravíssima, mas não só, não fizeram nada, como aceleraram o processo de
destruição. Agora é o custo. Destrói a sua casa, e agora não mais onde
morar”, afirma.
Sua maior crítica é contra setores que defendem o desmatamento em favor
da agricultura, que impuseram mudanças como o novo Código Florestal, mas
que não levaram em consideração os efeitos que o clima tem sobre a
própria agricultura, que depende muito da previsibilidade do clima.
Ele diz que além da população, a agricultura sofrerá os impactos disso. “O que essas pessoas que falam em nome da agricultura fizeram foi dar um tiro no próprio pé”. “Porque mesmo com chuva, em um evento de 2004 no Rio Grande do Sul, faltou chuva em umas semanas no período em que a soja estava florescendo e teve mais de 60% de queda de produção
Ele diz que além da população, a agricultura sofrerá os impactos disso. “O que essas pessoas que falam em nome da agricultura fizeram foi dar um tiro no próprio pé”. “Porque mesmo com chuva, em um evento de 2004 no Rio Grande do Sul, faltou chuva em umas semanas no período em que a soja estava florescendo e teve mais de 60% de queda de produção
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