Um novo estudo brasileiro mostra que seria possível recuperar a Mata Atlântica em propriedades agrícolas com um investimento de apenas 0,01% do Produto Interno Bruto (PIB)
do país. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores selecionaram
propriedades que apresentam pelo menos 20% de floresta conservada e
calcularam o quanto seria necessário para aumentar a área preservada
para 30%. Com 198 milhões de dólares, seria possível restaurar 424
mil hectares de Mata Atlântica. A pesquisa foi publicada na revista Science, na quinta-feira (28).
Com essa porcentagem, seria possível manter nas propriedades agrícolas a biodiversidade em nível semelhante ao das áreas de proteção. Além disso, a preservação de 30% da Mata Atlântica também traria benefícios aos agricultores.
"Seria possível trazer de volta para as propriedades agrícolas muitas
espécies que realizam funções importantes no ecossistema, como
polinização e controle de pestes", disse ao site de VEJA a brasileira Cristina Banks-Leite, professora do Imperial College, na Grã-Bretanha, e principal autora do estudo.
O
valor que seria necessário investir para atingir os 30% corresponde a
6,5% do que o Brasil gasta anualmente com subsídios agrícolas. Ele
inclui os gastos com a recuperação da floresta e também o que seria pago
aos agricultores. A "indenização" foi calculada com uma média dos
valores praticados pelos programas desse tipo que já existem na Mata
Atlântica. "Na prática, algumas áreas seriam mais caras do que outras.
Essa estratégia não seria eficaz em lavouras de laranja ou
cana-de-açúcar, mas produtores que muitas vezes têm prejuízo dependendo
do clima ou da balança comercial, como na lavoura de tomate ou morango,
ficariam interessados nessa estratégia", afirma a pesquisadora.
Após
três anos de funcionamento, o valor desse projeto cairia. A área
reflorestada já poderia se manter sozinha, sem ajuda externa, de forma
que sobraria apenas o valor pago aos agricultores, que representaria
0,0026% do PIB. "A partir do quarto ano seria possível restaurar outras
áreas de Mata Atlântica com o investimento inicial, então essa é uma
estratégia que pode ser adaptada à medida que o tempo for passando", diz
Cristina. Ela alerta que o ideal seria passar dos 30%, para haver uma
margem de segurança na biodiversidade.
Para a pesquisadora, esse
projeto poderia evitar uma polarização entre os interesses de
ambientalistas e agricultores. "Seria uma boa ideia tanto para
cientistas e conservacionistas quanto para os fazendeiros, que se
beneficiariam tanto pelos recursos ecológicos quanto pelos recursos
financeiros que receberiam", explica. Ela é otimista quanto à
possibilidade do projeto se concretizar: "O trabalho saiu hoje e eu já
vi pessoas comentando que essa é uma estratégia que eles já queriam
levar adiante, mas não tinham argumentos, faltava o apoio científico. Eu
acho que existe interesse político e dinheiro disponível no momento,
então é um momento propício", afirma.
Fonte: Planeta Sustentável
Nenhum comentário:
Postar um comentário