BERLIM - As emissões de dióxido de carbono (CO2) e dos demais gases
de efeito estufa na atmosfera dobraram na primeira década do século 21
em relação aos últimos 30 anos do século 20. A revelação consta do
relatório que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
das Nações Unidas deve apresentar neste domingo, 13, em Berlim, na
Alemanha. As negociações entre cientistas e delegados nacionais, porém,
são lentas: até a noite desta sexta-feira, 11, após cinco dias de
trabalho, apenas 50% do documento havia sido revisado.
O relatório diz respeito às estratégias de mitigação, ou seja, de
controle e redução dos efeitos das mudanças climáticas geradas pela
intervenção humana. Segundo o rascunho que ainda hoje será discutido
pelos cientistas reunidos pelo IPCC, "emissões de gases de efeito estufa
(GHG, em inglês) cresceram mais rapidamente entre 2000 e
2010". "As tendências atuais de emissões de gases de efeito estufa estão
no topo dos níveis projetados para a próxima década", conclui o texto.
O IPCC adverte ainda que o crescimento médio das emissões, de 2,2% ao
ano na primeira década do século 21, foi superior aos 1,3% registrados
entre 1970 e 2010. No biênio 2010 e 2011, o nível chegou a 3%, conforme o
jornal britânico The Guardian. Outro dado alarmante é que as
emissões não pararam de crescer mesmo com a crise financeira
internacional, que desacelerou o ritmo da atividade econômica mundial.
Para cumprir o objetivo de limitar o aumento médio da temperatura da
Terra a 2ºC até o final de 2100, países desenvolvidos, como os Estados
Unidos, seriam obrigados a cortar até 2030 pela metade suas emissões de
GHG em relação a 2010. O dado mostra a urgência da mobilização
internacional que seria necessária para mitigar os efeitos do
aquecimento global. Países emergentes, como China, Índia e Brasil,
também precisam participar de esforços semelhantes - a despeito de terem
contribuído menos para as emissões de CO² na atmosfera desde o início
da revolução industrial. "Estabilizar as concentrações de gases de
efeito estufa vai exigir transformações de larga escala nas sociedades
humanas", adverte o IPCC no relatório em debate.
Custos. O rascunho do documento tende a desapontar
investidores e líderes políticos que aguardam um balanço financeiro do
custo das medidas de mitigação do aquecimento global. De acordo com
dados obtidos pela agência Reuters, o texto afirma que uma dura redução
das emissões de gases de efeito estufa implicaria uma perda "de consumo"
avaliada entre 1% e 4% até 2030, de 2% a 6% até 2050 e de 2% a 12% até
2100, se comparado a nenhuma ação. "Estes custos não consideram os
benefícios da mitigação, incluindo a redução dos impactos climáticos",
diz o texto.
Os cientistas indicam, portanto, que haverá perda econômica, mas não
detalham os dados, nem explicam o que consideram "consumo". "Nós vamos
oferecer mais análise econômica desta vez, mas não vamos colocar isso
como o único impacto", afirmou à agência o coordenador do IPCC, o
indiano Rajendra Pachauri.
Em um dos estudos mais conclusivos sobre o impacto econômico da
mitigação do aquecimento global, realizado pelo Banco Mundial em 2006, a
estimativa era de que limitar as mudanças climáticas custaria cerca de
1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, enquanto não tomar
providências poderia custar entre 5% e 20% do PIB.
Fonte: Portal Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário