O período chuvoso no semiárido nordestino deve acabar em meados de maio
e, até lá, não terá sido suficiente para recuperar satisfatoriamente o
nível dos reservatórios potiguares. Esta é uma previsão da Empresa de
Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Norte (Emparn) para os próximos
meses. De acordo com o meteorologista do órgão, Gilmar Bristot, a
agricultura tem se recuperado com as precipitações do início deste ano,
que estão dentro da normalidade. Porém os gestores precisam se preparar
para as dificuldades que serão causadas pelo baixo volume do líquido
armazenado para o resto do ano.
“Ainda temos um mês de chuva pela frente. A regularidade delas aqui
depende dos oceanos, que estão favoráveis. Mesmo assim está chovendo
pouco. Dizer se vai ter recarga desses açudes é difícil e as autoridades
precisam estar preparadas para enfrentar o resto do ano”, coloca. Para
Bristot, seriam necessárias chuvas mais constantes e fortes para que o
nível das barragens subisse. Nestes próximos dias, a previsão é de
chuva, segundo a Emparn. Elas podem ser fortalecidas dependendo do
comportamento de uma frente fria que está sobre o Estado de Minas
Gerais, no Sudeste.
Secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca
(Sape), Tarcísio Bezerra afirmou que já tem conhecimento dessa
perspectiva, porém o Governo deve manter o mesmo trabalho realizado nos
últimos anos, durante a maior estiagem dos últimos 50 anos, com ações
paliativas como distribuição de carros-pipa. Ele também preside a
Comissão Estadual de Combate à Seca. “Enquanto não existir uma solução
definitiva, vamos manter a operação de carros-pipa e a construção de
poços. Não paramos isso, mesmo agora durante as chuvas. Alguns
municípios deixaram de usar os carros-pipa porque os açudes menores
encheram, mas são muito poucas cidades assim”, coloca.
A
reportagem tentou entrar em contato com a Secretaria de Recursos
Hídricos do Rio Grande do Norte (Semarh) para questionar sobre a
construção de adutoras, a situação dos reservatórios e o abastecimento
dos municípios potiguares, mas não foi atendida. Nesta quinta, não havia
ninguém trabalhando na Semarh e as ligações, mesmo para celulares, não
foram atendidas. Ontem (18), o expediente era facultativo.
Os
açudes de grande porte ainda estão em situação crítica. De acordo com
os dados atualizados pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
(Denocs), a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Açu, está com 40,15%
da sua capacidade total, que é de 2,4 bilhões de metros cúbicos. Isso é
bem mais que os 34,47¨% que o reservatório apresentava há pouco mais de
15 dias. Porém, no ano passado, em plena estiagem, o volume de água
alcançava quase 47% da capacidade no mês de Abril.
Em Caicó, o
açude Itans está pior. Embora o volume de água do reservatório, nos 15
primeiros dias do mês, tenha passado de 8,3 milhões para 12.7 milhões
de metros cúbicos, isso só representa 15,6% da capacidade do
reservatório, que pode armazenar até 81.75 milhões de metros cúbicos de
água.
Entre os reservatórios monitorados pelo Dnocs, o único que
está cheio é o pequeno Açude Riacho da Cruz II, no Alto Oeste, cuja
capacidade não alcança dos 10 milhões de metros cúbicos. A sangria foi
na última semana e tem atraído até turismo.
Meteorologia
Apesar
de já ter chovido mais de 400 milímetros em 25 municípios potiguares,
entre janeiro e abril, o quadro é ainda é preocupante. Em 128, choveu
tão pouco que eles permanecem na classificação “muito seco”. Em 12 a
situação é de “seco”, e em apenas um aparece com normal; é Portalegre,
no Alto Oeste, com 686,7 milímetros.
Porém, para a segunda
quinzena deste mês, é aguardada uma nova “janela de chuvas” trazida pelo
fenômeno Oscilação 30-60 dias, que é a propagação de uma onda
atmosférica ao longo da globo terrestre e no Equador, causando formação
de nuvens.
Aos poucos, depois de passar pela maior estiagem dos
últimos 50 anos, os agricultores e pecuaristas retomam a produção, ainda
cheios de preocupação. No ramo de fruticultura irrigada, a situação é
bem melhor que a registrada nos dois últimos anos, mas os produtores
ressaltam que ainda há um quadro de incertezas.
O volume de
chuvas está acima dos registros em igual período de 2013, mas ainda são
insuficientes para garantir as condições para uma boa safra. O pasto
voltou a surgir e os pecuaristas se animam para recompor seus rebanhos.
Porém os criadores têm preocupação com o nível dos reservatórios, o
crédito e a assistência técnica no campo. Se as reservas não forem
suficientes para os próximos meses, há risco de se perder os animais.
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