quinta-feira, 6 de março de 2014

UFRN coordena pesquisas sobre fungos no Semiárido brasileiro



Por Júnior Marinho
Quando pensamos ou ouvimos falar no Semiárido Brasileiro, o senso comum nos remete a uma paisagem seca e sem vida. No entanto, estudos do Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Semiárido (PPBio Semiárido) estimam que só o Bioma das Caatingas, incluído totalmente no Semiárido, possua uma biodiversidade da ordem de mais de 20 mil espécies, entre animais, fungos e plantas.

O PPBio Semiárido é um programa do Governo Federal criado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Com sede na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, tem por objetivo articular atividades de instituições de pesquisa do Nordeste no intuito de, num período de dez anos, caracterizar a biodiversidade e promover o desenvolvimento científico dessa região.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é uma das instituições de pesquisa que compõe o programa, que já está na terceira edição desde sua criação em 2006. A Pós-Graduação em Sistemática e Evolução do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia (DBEZ) no Centro de Biociências (CB), coordenada pelo professor Iuri Goulart Baseia, colabora com o projeto especificamente na coleta, no registro e na identificação dos fungos presentes no Semiárido Brasileiro.

Iuri Goulart, que também é responsável por coordenar todo o nicho que se refere a fungos no PPBio Semiárido, explica que estudos desse porte nunca haviam sido realizados nesta região. “No passado, havia uma falsa noção de que o Semiárido era um ecossistema pobre, por isso estamos realizando uma pesquisa de base. Nela constatamos que, além das poucas espécies de fungos conhecidas, há muitos gêneros novos que nunca foram descritos pela ciência”, afirma.

O processo de pesquisa é realizado nos cerca de 800mil km2 do Semiárido, por meio de expedições em seis áreas do Bioma Caatinga definidas pelo programa como de “Extrema Importância Biológica” e espalhadas pelos estados do Ceará (CE), Rio Grande do Norte (RN), Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Piauí (PI) e Bahia (BA). A ação produz uma rede de inventários e amplia a coleção biológica, caracterizando a biodiversidade da região.

Para a bióloga de fungos, Bianca Denise Barbosa da Silva, que participou do programa em sua Primeira Etapa (2006-2009) como bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI) do CNPq pela Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da UFRN, a fase da coleta é fundamental. “Foi imprescindível conhecer o habitat e a vegetação dos locais onde coletei os fungos de interesse para a pesquisa. Isso ajudou muito na descrição dos materiais estudados”, enfatiza. “O projeto capacita os biólogos da graduação e da pós-graduação da UFRN para atuarem na área de identificação de fungos, área carente no país”, completa.

São muitos os frutos da participação da UFRN no PPBio Semiárido. Um deles foi a colaboração no Guide to the Common “Fungi of the Semiarid Region of Brazil” (Guia dos Fungos Comuns do Semiárido Brasileiro), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e editado pela TECC Editora em 2013.

Com um linguajar bastante técnico e edição bilíngue, a publicação procura contribuir com estudantes e biólogos profissionais de todo o mundo que tenham interesse na região do Semiárido. Primeiro guia de campo que trata dos fungos macroscópicos dessa região, inclui o trabalho de 17 micólogos da UEFS, UFRN e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que trabalham com fungos no Brasil.

No livro, a equipe de pós-graduandos da UFRN composta por Bianca Denise Barbosa da Silva, Larissa Trierveiler Pereira, Eduardo Fazolino Perez, Theomara Ottoni Batista dos Santos e o professor Iuri Goulart Baseia ficou responsável pelo capítulo referente aos fungos Gasteróides (Gasteromicetos), compondo um total de 23 espécies ilustradas.

Segundo Iuri Goulart, além do livro, de cunho mais acadêmico, duas outras ações que giram em torno da participação da UFRN no PPBio Semiárido podem trazer benefícios diretos à sociedade. “Não basta ir ao Seridó do Rio Grande do Norte, por exemplo, coletar espécies, publicar e a população local não ser beneficiada. Estamos produzindo cartilhas explicativas, com um linguajar mais acessível, para distribuir nas escolas da região e informar à comunidade sobre a biodiversidade local”, afirma o coordenador.  

Outra área em potencial é a indústria farmacêutica. Quando os pesquisadores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia (DBEZ) detectam que um fungo, identificado no programa do PPBio Semiárido, tem potencial e ocorre em grande quantidade com capacidade para ser explorado, essa espécie é coletada e levada para análise no Departamento de Bioquímica (DBQ). Os estudos bioquímicos revelam se certas substâncias presentes em determinado fungo têm potencial farmacológico.

Programa de pesquisa em biodiversidade

O programa de Pesquisa em Biodiversidade- PPBio foi criado pelo MCTI em 2004, incluído no Plano Plurianual do Governo Federal e oficializado pela Portaria MCT nº 268 de 18 de junho de 2004, que define seus objetivos, tendo sido modificado pelas portarias MCT nº 382, de junho de 2005, e MCT nº 388, de 22 de junho de 2006.

De abrangência nacional, o programa tem como objetivo central articular a competência regional e nacional para que o conhecimento da biodiversidade brasileira seja ampliado e disseminado de forma planejada e coordenada. O programa iniciou sua atividades na região amazônica, fortalecendo a atuação dos institutos do MCTI na região: o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) na Amazônia Ocidental e o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) na Amazônia Oriental.

Posteriormente, o programa foi expandido para o Semiárido, mediante colaboração com a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Em 2010, a Mata Atlântica também foi abrangida pelo PPBio, por meio de um projeto piloto, no âmbito do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para a Biodiversidade (PROBIO II), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por meio de ações da rede ComCerrado, o PPBio também passou a abranger, recentemente, o Bioma Cerrado.

Fonte: Boletim produzido pela Agência de Comunicação da UFRN – AGECOM

Reitora: Ângela Maria Paiva Cruz
Vice-Reitora: Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes
Superintendente de Comunicação: José Zilmar Alves da Costa
Diretor da Agência Comunicação: Francisco de Assis Duarte Guimarães
Outros créditos: Iuri Baseia e Wallacy Medeiros

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