terça-feira, 19 de março de 2013

Pesquisador da UFRN expõe em Brasília alternativa para enfrentar o problema da seca do Nordeste


Ao fazer uma analogia com o Egito antigo, remetendo ao governador José, retratado pela bíblia, que fez reserva de recursos durante o período de fartura para os anos de escassez, o professor João Abner Guimarães Júnior defende que o Nordeste tem condições técnicas desuperar a seca. O pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitáriada Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) propõe a criação de uma reforma hídrica que ataque o problema em sua fonte: o acesso à água.

De acordo com o professor João Abner, a região chamada de Nordeste Setentrional, correspondente aos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, possui aproximadamente 10 bilhões de metros cúbicos de água em reservatórios. Apenas 20% desse total seriam suficientes para suprir todo o consumo humano e animal da população local. No entanto, esses dados não têm se reproduzido na realidade e a seca assola mais uma vez o semiárido nordestino.

O professor João Abner representou a UFRN na audiência pública da Comissão Permanente de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados sobre a questão da seca no Nordeste, realizada em novembro de 2012, em Brasília. Na ocasião ele propôs a criação de um sistema integrado de abastecimento de água, que democratize o acesso ao recurso para os moradores da região. Os mais de dez anos de pesquisas realizadas no Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento(LARHISA) dão ao professor a autoridade para tratar o tema.

“Os cerca de 60 mil açudes que o Nordeste tem ficam na zona setentrional, sendo reservados para consumo humano. Enquanto isso, 95% da água se perde em evaporação. Assim que houver um sistema integrado que leve água das grandes barragens para o abastecimentohumano, os pequenos açudes são liberados para a produção de feno”, explica João Abner. O professor ressalta ainda que a silagem, método de conservação de forragem para alimentação animal, precisa entrar em pauta.

Na prática, segundo ele, esse sistema integrado seria equivalente ao programa Luz para Todos, do governo federal. O objetivo é tornar o acesso democrático à água em uma região que, apesar de se encontrar no polígono das secas, tem índices pluviométricos maiores que os de capitais europeias como Madrid, por exemplo. Nesse sentido, qual é, afinal, o motivo da seca que aflige o semiárido nordestino? Para João Abner a resposta é simples: ausência de políticaspúblicas efetivas na área. “A recorrência dos problemas é a prova da falência das políticas públicas no setor de recursos hídricos; existem apenas medidas emergenciais, que, certamente, são importantes em casos de catástrofes, mas, se acontecem todo ano, algo está errado. Tem água para consumo humano e animal, tem água sobrando e é necessário democratizá-la”, afirma. Segundo Abner, o custo para um programa que leve água a todos da região seria de R$ 20 por habitante/ano, valor menor do que o gasto com carros-pipa.

É nesse ponto que João Abner evoca a prática elaborada por José no Egito bíblico, aplicando-a ao semiárido nordestino. “A solução para o período de vacas magras tem de passar pelo aproveitamento do de vacas gordas”, afirma o pesquisador. Com a implantação dessa estratégia milenar, os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem na região poderão enfrentar e superar a escassez de alimentos, de água e, principalmente, ter melhores condições de vida.


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