Ao fazer uma analogia com o Egito antigo, remetendo
ao governador José, retratado pela bíblia, que fez reserva de recursos durante
o período de fartura para os anos de escassez, o professor João Abner Guimarães
Júnior defende que o Nordeste tem condições técnicas desuperar a seca. O pesquisador do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Sanitáriada Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) propõe a criação de uma reforma hídrica que ataque o problema em sua fonte:
o acesso à água.
De acordo com o professor João Abner, a região
chamada de Nordeste Setentrional, correspondente aos estados de Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, possui aproximadamente 10 bilhões de
metros cúbicos de água em reservatórios. Apenas 20% desse total seriam
suficientes para suprir todo o consumo humano e animal da população local. No
entanto, esses dados não têm se reproduzido na realidade e a seca assola mais
uma vez o semiárido nordestino.
O professor João Abner representou a UFRN na
audiência pública da Comissão Permanente de Meio Ambiente da Câmara dos
Deputados sobre a questão da seca no Nordeste, realizada em novembro de 2012, em
Brasília. Na ocasião ele propôs a criação de um sistema integrado de
abastecimento de água, que democratize o acesso ao recurso para os moradores da
região. Os mais de dez anos de pesquisas realizadas no Laboratório de Recursos
Hídricos e Saneamento(LARHISA) dão ao professor a autoridade para tratar
o tema.
“Os cerca de 60 mil açudes que o Nordeste tem ficam
na zona setentrional, sendo reservados para consumo humano. Enquanto isso, 95%
da água se perde em evaporação. Assim que houver um sistema integrado que leve
água das grandes barragens para o abastecimentohumano, os pequenos açudes são liberados para a
produção de feno”, explica João Abner. O professor ressalta ainda que a
silagem, método de conservação de forragem para alimentação animal, precisa
entrar em pauta.
Na prática, segundo ele, esse sistema integrado seria
equivalente ao programa Luz para Todos, do governo federal. O objetivo é tornar
o acesso democrático à água em uma região que, apesar de se encontrar no polígono
das secas, tem índices pluviométricos maiores que os de capitais europeias como
Madrid, por exemplo. Nesse sentido, qual é, afinal, o motivo da seca que aflige
o semiárido nordestino? Para João Abner a resposta é simples: ausência de
políticaspúblicas efetivas na área. “A recorrência dos
problemas é a prova da falência das políticas públicas no setor de recursos
hídricos; existem apenas medidas emergenciais, que, certamente, são importantes
em casos de catástrofes, mas, se acontecem todo ano, algo está errado. Tem água
para consumo humano e animal, tem água sobrando e é necessário democratizá-la”,
afirma. Segundo Abner, o custo para um programa que leve água a todos da região
seria de R$ 20 por habitante/ano, valor menor do que o gasto com carros-pipa.
É nesse ponto que João Abner evoca a prática
elaborada por José no Egito bíblico, aplicando-a ao semiárido nordestino. “A solução
para o período de vacas magras tem de passar pelo aproveitamento do de vacas
gordas”, afirma o pesquisador. Com a implantação dessa estratégia milenar, os cerca
de 20 milhões de brasileiros que vivem na região poderão enfrentar e superar a
escassez de alimentos, de água e, principalmente, ter melhores condições de
vida.
Fonte: Jornal da UFRN
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