sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Estudo mostra os impactos do uso de nutrientes e a poluição no planeta

Um novo relatório encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) destaca como atividades humanas têm alterado maciçamente os ciclos naturais do nitrogênio, do fósforo e de outros nutrientes nos ecossistemas. Enquanto, por um lado, o uso de nutrientes na agricultura e na pecuária trouxe enormes benefícios para a produção, por outro lado gerou níveis de poluição da água e do ar, ocasionando prejuízos à saúde humana e ambiental. 
Nutrientes em Nosso Mundo – tradução livre de Our Nutrient World – enfoca o desafio de aumentar a produção mundial de alimentos e de energia, gerando menos poluição. Foi lançado nesta semana, no Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente, realizado durante a reunião do Conselho Administrativo do Pnuma, que vai até esta sexta-feira (22), em Nairóbi, no Quênia. O estudo foi realizado por cerca de 50 especialistas de 14 países, incluindo os pesquisadores brasileiros Jean Ometto, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), e Mercedes Bustamante, diretora da Secretaria de Políticas e Programas Temáticos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB).
Os cientistas sugerem que uma melhoria em 20% na eficiência da utilização de nutrientes até 2020 reduziria a utilização anual de fertilizantes nitrogenados em 20 milhões de toneladas. Eles batizaram essa meta como "20:20 para 2020". A análise evidencia como isso pode proporcionar, globalmente, uma economia líquida da ordem de 110 bilhões de libras esterlinas por ano. Esse valor inclui os custos de implementação e os benefícios financeiros da redução do uso de nitrogênio e melhorias para o meio ambiente e a saúde humana.
“Os nutrientes são essenciais para a produção agrícola, mas em excesso são deletérios ao meio ambiente”, observa o pesquisador Jean Ometto. Ele explica que, de acordo com o estudo, é possivel detectar que há uma distribuição desigual na utilização de nutrientes pela agricultura no planeta, inclusive no Brasil.
Contexto latino-americano
Ometto e Mercedes foram responsáveis por retratar a situação na América Latina. No Brasil, a utilização excessiva de fertilizantes nas atividades agrícolas é pontual, mas, assim como no cenário mundial, há um desperdício muito grande no uso de nutrientes em todo o processo da cadeia produtiva, seja na aplicação, na colheita, no armazenamento ou no transporte. O pesquisador lembra, por exemplo, que para cada 100 gramas (g) de nutrientes utilizados na produção de carne bovina, apenas 4 g chegam ao final da cadeia alimentar, ou seja, ao organismo humano. “A eficiência no aproveitamento de nutrientes, globalmente, é muito baixa”, diz.
O relatório não recomenda uma legislação global para controlar o uso de nutrientes, mas reconhece que esse é um problema mundial, especialmente tendo em conta o comércio global de produtos agrícolas. Alerta, porém, para a necessidade de uma ação intergovernamental para abordar essas questões e propõe um roteiro para um possível acordo.
"Nossa análise mostra que, melhorando a gestão do fluxo de nutrientes, nós podemos ajudar a proteger o meio ambiente, o clima e a saúde humana, considerando que tais questões são ligadas a segurança alimentar e energética”, diz o principal autor do relatório, o professor Mark Sutton, do Centro Britânico para Ecologia e Hidrologia (CEH, na sigla em inglês).
Emissões
Fontes de poluição consideradas no relatório incluem as emissões provenientes da agricultura e da combustão de combustíveis fósseis. Globalmente cerca de 80% do nitrogênio e do fósforo é consumido para a criação de animais e não diretamente por pessoas, mostrando como o fornecimento de nutrientes e a poluição global são dominadas pela escolha dos seres humanos em consumir produtos de origem animal.
O relatório propõe um pacote de dez ações para reduzir essas ameaças de poluição e faz recomendações para medidas que devem ser compartilhadas por governos, empresas e cidadãos. Os pontos chaves incluem:
- Ações que melhorem a gestão de nutrientes na agricultura. As medidas incluem uma variedade de técnicas que já estão disponíveis, mas ainda não amplamente aplicadas, incluindo os métodos agrícolas de precisão adequados aos países desenvolvidos e em desenvolvimento;
- Ações para reduzir as perdas de nutrientes provenientes da indústria e do tratamento de águas residuais, incluindo a reciclagem dos recursos disponíveis. Uma meta de longo prazo é o desenvolvimento de métodos para recapturar óxidos de nitrogênio provenientes de fontes de combustão, o que por si só representa um patrimônio de recursos perdidos em torno de £ 25 bilhões por ano;
- Ações para ampliar a otimização local dos fluxos de nutrientes, conectando agricultura e pecuária para melhorar as oportunidades de reciclagem de nutrientes;
- Diminuição do consumo pessoal de proteína animal entre as populações com alto nível de consumo. Com o rápido aumento no consumo de carne e produtos lácteos, na Ásia e América Latina (espelhando-se em padrões europeus e norte-americanos), as escolhas alimentares têm um enorme potencial para influenciar os níveis globais de poluição originada por nutrientes;
- O relatório destaca como um progresso substancial conseguido por alguns países na redução das emissões de fontes de combustão e de tratamento de águas residuais. Em comparação, tem-se obtido muito menos avanço, até agora, na redução das emissões da agricultura ou no que diz respeito às escolhas dos cidadãos. Destaca-se a importância de trabalhar com pontos focais estratégicos nas cadeias de nutrientes, em que alguns indivíduos chave ou comunidades, como líderes locais, supermercados e os governos, exercem um controle substancial.
O professor Sutton destaca ainda que uma opção é ampliar e fortalecer o mandato de um acordo existente chamado Programa de Ação Global (GPA, na sigla em inglês) para a proteção do meio ambiente marinho por atividades terrestres. Para ele, a soma de esforços é fundamental: “A atuação em conjunto para atender os múltiplos desafios globais ligados a alimentos, água, energia, poluição da água e do ar, clima e saúde, pode motivar uma ação muito mais forte”.

Texto: Ascom do CEH e Ascom do MCTI

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