Um novo relatório encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (Pnuma) destaca como atividades humanas têm alterado
maciçamente os ciclos naturais do nitrogênio, do fósforo e de outros
nutrientes nos ecossistemas. Enquanto, por um lado, o uso de nutrientes
na agricultura e na pecuária trouxe enormes benefícios para a produção,
por outro lado gerou níveis de poluição da água e do ar, ocasionando
prejuízos à saúde humana e ambiental.
Nutrientes em Nosso Mundo – tradução livre de Our Nutrient World –
enfoca o desafio de aumentar a produção mundial de alimentos e de
energia, gerando menos poluição. Foi lançado nesta semana, no Fórum
Global de Ministros do Meio Ambiente, realizado durante a reunião do
Conselho Administrativo do Pnuma, que vai até esta sexta-feira (22), em
Nairóbi, no Quênia. O estudo
foi realizado por cerca de 50 especialistas de 14 países, incluindo os
pesquisadores brasileiros Jean Ometto, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), e Mercedes Bustamante, diretora da
Secretaria de Políticas e Programas Temáticos do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) e professora do Departamento de Ecologia da
Universidade de Brasília (UnB).
Os cientistas sugerem que uma melhoria em 20% na eficiência da
utilização de nutrientes até 2020 reduziria a utilização anual de
fertilizantes nitrogenados em 20 milhões de toneladas. Eles batizaram
essa meta como "20:20 para 2020". A análise evidencia como isso pode
proporcionar, globalmente, uma economia líquida da ordem de 110 bilhões
de libras esterlinas por ano. Esse valor inclui os custos de
implementação e os benefícios financeiros da redução do uso de
nitrogênio e melhorias para o meio ambiente e a saúde humana.
“Os nutrientes são essenciais para a produção agrícola, mas em excesso
são deletérios ao meio ambiente”, observa o pesquisador Jean Ometto. Ele
explica que, de acordo com o estudo, é possivel detectar que há uma
distribuição desigual na utilização de nutrientes pela agricultura no
planeta, inclusive no Brasil.
Contexto latino-americano
Ometto e Mercedes foram responsáveis por retratar a situação na América
Latina. No Brasil, a utilização excessiva de fertilizantes nas
atividades agrícolas é pontual, mas, assim como no cenário mundial, há
um desperdício muito grande no uso de nutrientes em todo o processo da
cadeia produtiva, seja na aplicação, na colheita, no armazenamento ou no
transporte. O pesquisador lembra, por exemplo, que para cada 100 gramas
(g) de nutrientes utilizados na produção de carne bovina, apenas 4 g
chegam ao final da cadeia alimentar, ou seja, ao organismo humano. “A
eficiência no aproveitamento de nutrientes, globalmente, é muito baixa”,
diz.
O relatório não recomenda uma legislação global para controlar o uso de
nutrientes, mas reconhece que esse é um problema mundial, especialmente
tendo em conta o comércio global de produtos agrícolas. Alerta, porém,
para a necessidade de uma ação intergovernamental para abordar essas
questões e propõe um roteiro para um possível acordo.
"Nossa análise mostra que, melhorando a gestão do fluxo de nutrientes,
nós podemos ajudar a proteger o meio ambiente, o clima e a saúde humana,
considerando que tais questões são ligadas a segurança alimentar e
energética”, diz o principal autor do relatório, o professor Mark
Sutton, do Centro Britânico para Ecologia e Hidrologia (CEH, na sigla em inglês).
Emissões
Fontes de poluição consideradas no relatório incluem as emissões
provenientes da agricultura e da combustão de combustíveis fósseis.
Globalmente cerca de 80% do nitrogênio e do fósforo é consumido para a
criação de animais e não diretamente por pessoas, mostrando como o
fornecimento de nutrientes e a poluição global são dominadas pela
escolha dos seres humanos em consumir produtos de origem animal.
O relatório propõe um pacote de dez ações para reduzir essas ameaças de
poluição e faz recomendações para medidas que devem ser compartilhadas
por governos, empresas e cidadãos. Os pontos chaves incluem:
- Ações que melhorem a gestão de nutrientes na agricultura. As medidas
incluem uma variedade de técnicas que já estão disponíveis, mas ainda
não amplamente aplicadas, incluindo os métodos agrícolas de precisão
adequados aos países desenvolvidos e em desenvolvimento;
- Ações para reduzir as perdas de nutrientes provenientes da indústria e
do tratamento de águas residuais, incluindo a reciclagem dos recursos
disponíveis. Uma meta de longo prazo é o desenvolvimento de métodos para
recapturar óxidos de nitrogênio provenientes de fontes de combustão, o
que por si só representa um patrimônio de recursos perdidos em torno de £
25 bilhões por ano;
- Ações para ampliar a otimização local dos fluxos de nutrientes,
conectando agricultura e pecuária para melhorar as oportunidades de
reciclagem de nutrientes;
- Diminuição do consumo pessoal de proteína animal entre as populações
com alto nível de consumo. Com o rápido aumento no consumo de carne e
produtos lácteos, na Ásia e América Latina (espelhando-se em padrões
europeus e norte-americanos), as escolhas alimentares têm um enorme
potencial para influenciar os níveis globais de poluição originada por
nutrientes;
- O relatório destaca como um progresso substancial conseguido por
alguns países na redução das emissões de fontes de combustão e de
tratamento de águas residuais. Em comparação, tem-se obtido muito menos
avanço, até agora, na redução das emissões da agricultura ou no que diz
respeito às escolhas dos cidadãos. Destaca-se a importância de trabalhar
com pontos focais estratégicos nas cadeias de nutrientes, em que alguns
indivíduos chave ou comunidades, como líderes locais, supermercados e
os governos, exercem um controle substancial.
O professor Sutton destaca ainda que uma opção é ampliar e fortalecer o
mandato de um acordo existente chamado Programa de Ação Global (GPA, na
sigla em inglês) para a proteção do meio ambiente marinho por
atividades terrestres. Para ele, a soma de esforços é fundamental: “A
atuação em conjunto para atender os múltiplos desafios globais ligados a
alimentos, água, energia, poluição da água e do ar, clima e saúde, pode
motivar uma ação muito mais forte”.
Texto: Ascom do CEH e Ascom do MCTI
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