terça-feira, 11 de setembro de 2012

Campanha anglo-brasileira estuda emissões de queimadas na Amazônia

Até o final dessa semana, a aeronave britânica de última geração FAAM BAE-146 decola pela primeira vez de Porto Velho (RO), com o objetivo de monitorar a emissão de gases na região da Amazônia legal.
Ao todo, a campanha anglo-brasileira denominada South American Biomass Burning Analysis (Sambba) prevê, ao longo desse mês de setembro, a realização de 20 vôos (80 horas-voo) sobre o entorno de Porto Velho, Alta Floresta e Manaus. 
Nesse período, serão feitas diversas missões de amostragem para caracterizar plumas recém-emitidas e envelhecidas (fumaça resultante das queimadas), além de realização de medidas de concentrações de aerossóis (particulas sólidas em suspensão na atmosfera), de gases traços relevantes (que existem em menor proporção na atmosfera) e medidas de microfísica (aferir as características das nuvens) e radiação solar.
O foco das preocupações dos técnicos e cientistas é com os impactos diretos e indiretos sobre o tempo e clima, devido à concentração dos aerossóis, como também como isso afeta a produtividade da floresta amazônica, seus recursos naturais e potenciais econômicos. Na questão climática, a concentração de partículas de fumaça pode levar à redução das chuvas e de sua distribuição em toda a região.
Investigação
A intenção da campanha é investigar a emissão de fogos próximos da borda da floresta Amazônica ou queimadas agrícolas nas regiões de Cerrado. Participam da iniciativa técnicos e cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe/MCTI) – liderados pela pesquisadora Karla Longo e Saulo de Freitas – e da Universidade de São Paulo (USP), pelo pesquisador Paulo Artaxo. Karla e Saulo coordenam o grupo de modelagem da atmosfera e interfaces do Inpe, e são responsáveis pelo desenvolvimento do modelo de previsão de qualidade do ar. (CCATT-Brasms). O lado britânico terá representantes do UK-Met-Office e das universidades de Manchester e Leeds.
Coincidindo com o pico da temporada de queimadas na Amazônia e regiões adjacentes, o Sambba tem como foco “avançar na capacidade de Reino Unido, Brasil e comunidade científica internacional de quantificar o impacto dos aerossóis de queimada e biogênicos no clima regional da Amazônia e redondezas.
Parâmetros
Os dados amostrados da experiência terão como base: parâmetros meteorológicos (pressão, temperatura, umidade relativa, velocidade e direção do vento); parâmetros de aerossóis (distribuição de  tamanho e concentração em número, espalhamento e absorção de radiação, higroscopicidade); parâmetros de nuvens (distribuição de tamanho de gotas e de precipitação, conteúdos de água total e na fase líquida, e concentração de núcleos de condensação de gotas de nuvens; parâmetros de gases (concentração atmosférica dos gases CO, NO, NO2 , NOx, NOy, O3, CO2, SO2, PAN e HCHO) e parâmetros radiativos e de sensoriamento remoto: propriedades radiométricas relacionadas a fluxos de irradiâncias de origem solar e terrestre.
A expectativa do Inpe é que a análise posterior dos dados coletados e produção de artigos científicos contribuam para a melhoria dos modelos de química atmosférica utilizados pelo instituto.
O mesmo grupo britânico envolvido no Sambba já cumpriu outras missões importantes, como o Amas (do inglês, African Monsoon Multidisciplinary Analysis) em 2006, de sobrevoo da África Ocidental analisando aerossóis de poeira e de queimadas na região do Sahel. O trabalho mais recente ocorreu na floresta tropical da Indonésia sobre a química atmosférica e formação de aerossóis biogênicos naturais.
A seguir, um resumo dos objetivos científicos da campanha:
. Medir as propriedades físicas, ópticas e químicas dos aerossóis naturais e de queimadas na América do Sul, incluindo seu estado de mistura e sua higroscopicidade. Avaliar como essas propriedades são associadas às fontes emissoras (emissão natural, incêndios florestais, incêndios nas regiões de Cerrado, e incêndios em áreas de agricultura e pastagem) e sua idade/ciclo de desenvolvimento.
. Determinar as taxas de emissão de gases traço por queimadas, incluindo compostos orgânicos voláteis e semi-voláteis. Investigar a formação e evolução do aerossol orgânico secundário e como isso se relaciona com a química dos ambientes natural e poluído.
. Medir os efeitos diretos dos aerossóis naturais e de queimadas sobre a radiação solar e avaliar como isso afeta o balanço radiativo da região.
. Investigar o impacto dos aerossóis de queimadas na microfísica de nuvens (núcleos de condensação de nuvens, concentração de gotículas de nuvens e espectros de tamanho de gota) e a supressão da precipitação.
. Investigar o transporte e mistura vertical de aerossóis na América do Sul, incluindo aspectos como levantamento da pluma de fumaça e circulações atmosféricas de mesoescala.
. Gerar medidas para validação dos produtos de sensoriamento remoto por satélite, como os desenvolvidos para identificar os incêndios ativos, áreas queimadas, altura da pluma de fumaça, a profundidade óptica do aerossol atmosférico e os encargos dos constituintes químicos da América do Sul (Modis, Misr, Calipso, Schiamacy, Aatsr, etc).
. Fornecer dados observacionais para a inicialização e validação de estudos de modelagem, como modelos climáticos, modelos de transporte regional em diferentes escalas.
. Fornecer dados observacionais para avaliar o modelo de levantamento de pluma de fumaça implementadas nos modelos atmosféricos do Brasil e do Reino Unido.
. Fornecer caracterização das partículas de aerossol na região de escoamento das emissões de queimadas na bacia Amazônica, a distribuição vertical da fumaça, bem como os fluxos e balanço de massa.

Fonte: Portal do MCT

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