Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
Agência FAPESP – Embora a comunidade científica internacional
tenha chegado ao consenso de que o aumento de até 2º C na temperatura
média do planeta é aceitável para os ecossistemas terrestres, esse
aquecimento pode ser mais nocivo do que se imagina para os oceanos e
para a vida marinha.
“Nesse cenário, o número de dias com picos de temperatura acima dos
28ºC a 30ºC aumentaria significativamente nas águas costeiras e em mares
fechados, como o Mediterrâneo. Deveríamos avaliar melhor os efeitos da
temperatura mais alta sobre a vida marinha, especialmente sobre a
estabilidade de algumas proteínas”, disse Luis Valdés, chefe do setor de
Ciência Oceânica da Comissão Intergovernamental de Oceanografia da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), à Agência FAPESP.
Segundo Valdés, que está no Rio de Janeiro para a RIO+20, há uma
escassez de peixes no mundo todo e é cada vez mais difícil se achar
peixes grandes, o que afeta de forma grave economias que dependem da
pesca.
“A elevação dos níveis do mar causada pelo degelo é um dos grandes
problemas. Ainda não sabemos a velocidade em que o degelo está ocorrendo
na Groenlândia. Como isso vai afetar as mudanças de temperatura nas
correntes marinhas é uma informação-chave. Se as correntes mudam, tudo
muda”, disse.
“Em termos de biologia, se a produção primária dos oceanos diminuir, a
pesca também vai cair. A mudança nas rotas migratórias dos
peixes-espadas repercutirá diretamente nas economias dos países e em
muitos postos de trabalho em terra. A pesca é um exemplo claro de como
um setor produtivo repercute em uma grande economia”, disse Valdés.
Segundo Valdés, a dimensão dos efeitos das mudanças climáticas sobre
os oceanos é frequentemente negligenciada e a informação recebida pela
comunidade científica e pelo público geral é parcial.
“Temos dados do hemisfério Norte sobre o impacto das mudanças globais
nos oceanos, mas não do hemisfério Sul. Desse modo, não temos como
saber quais são os efeitos e os danos, como os ecossistemas estão
respondendo ou como as espécies estão se adaptando”, ponderou.
Valdés afirma que as medidas que podem ser tomadas no sentido de
mitigar os efeitos do aquecimento global sobre os oceanos estão
diretamente relacionadas ao poder econômico dos países.
“As medidas tomadas em termos de adaptação em países como Holanda e
Inglaterra são no sentido de se proteger contra o aumento no nível do
mar. Isso significa uma importante transformação na engenharia costeira,
o que é mais difícil de se fazer em economias menos desenvolvidas,
como, por exemplo, em pequenas ilhas do Pacífico”, disse.
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