Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Os oceanos precisam passar a ganhar mais  destaque na agenda de discussões dos fóruns ambientais internacionais,  como a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que será realizada de 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro.
A reivindicação foi feita por pesquisadores da área de oceanografia durante o workshop preparativo para a RIO+20 “BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for a Greener Economy in the context of RIO+20”, realizado pela FAPESP nos dias 6 e 7 de março no Espaço Apas, em São Paulo.
O objetivo do evento foi contribuir para as discussões sobre tópicos  que estarão em pauta durante a RIO+20 a partir de pesquisas realizadas  no Brasil sobre clima, biodiversidade, meio ambiente e energia, entre  outros temas, no âmbito dos programas BIOTA-FAPESP, FAPESP de Pesquisa  em Bioenergia (BIOEN) e FAPESP de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas  Globais (PFPMCG).
Na avaliação de cientistas presentes no encontro, é preciso que a  questão dos oceanos, que tem sido sistematicamente subestimada nas  discussões ambientais, passe a ganhar maior relevância a partir da  RIO+20.
“Até o momento, os oceanos têm aparecido de maneira secundária na  agenda ambiental e na agenda dos países, em parte pela falta de  informações sobre eles. A expectativa da comunidade científica é que  eles sejam contemplados de forma mais efetiva a partir da RIO+20”, disse  José Henrique Muelbert, professor da Universidade Federal do Rio  Grande, à Agência FAPESP.
Na opinião do cientista, apesar de os oceanos e ambientes marinhos em  geral terem merecido mais de dez parágrafos no documento preparatório  da RIO+20 – mais conhecido como Zero Draft –, a agenda de discussões sobre o tema na Conferência ainda está um pouco tímida.
“Existem muitos aspectos relacionados aos oceanos que ficaram de fora  da agenda da conferência, e o principal é a questão da observação dos  oceanos, principalmente em ambientes costeiros, onde existe uma grande  relação entre a ocupação humana e os ambientes oceânicos”, avaliou  Muelbert.
De acordo com o pesquisador, um dos poucos itens relacionados aos ambientes marinhos mencionados no Zero Draft diz respeito à necessidade de implantar um sistema de observação para acidificação dos oceanos.
Observado a partir da década de 1990, o fenômeno caracterizado pelo  aumento na acidez da água do mar devido ao aumento de CO2 nos oceanos  acelera a dissolução do carbonato de cálcio e da aragonita presentes na  composição do esqueleto e exoesqueleto de muito organismos que vivem nos  oceanos, como mariscos, mexilhões e ostras, que perderão suas  capacidades de formar carapaças.
Em função disso, o fenômeno poderá causar o desaparecimento dessas  espécies, além de outras muito importantes para os ecossistemas  aquáticos, como corais e plânctons, que são fontes de alimentos de  peixes e baleias e realizam fotossíntese.
“Alguns estudos recentes demonstraram que alguns oceanos, em especial  o Atlântico e o Índico, vão ter uma variabilidade muito grande da taxa  de pH”, disse Muelbert.
Segundo Muelbert, além da diminuição da biodiversidade marinha,  outros impactos que poderão ser causados pela acidificação dos oceanos  serão nas propriedades óticas e na temperatura dos mares.
Com a dissolução das carapaças dos organismos marinhos, provocada  pela diminuição do pH da água do mar, os pesquisadores estimam que  ocorrerá um aumento significativo da quantidade de carbonato em  suspensão. Como consequência desse processo, o fundo dos oceanos poderá  se tornar mais escuro e a capacidade de as plantas realizar fotossíntese  e crescer nesse ambiente aquático poderá ficar restrita à superfície.
“Isso também poderá ter interferência na transferência de calor entre  a coluna d’água dos oceanos e a atmosfera. A presença de mais elementos  em suspensão no mar fará com que ele reflita mais luz”, explicou  Muelbert.
Carência de informações
Na avaliação do professor da Universidade Federal do Rio Grande, é  preciso obter muito mais informações do que as disponíveis hoje para  acompanhar e gerenciar os problemas relacionados em parte às mudanças  climáticas globais que estão afetando os oceanos.
Segundo Muelbert, é necessário obter mais dados meteorológicos de  séries temporais de 20 a 30 anos, por exemplo, que permitam aos  pesquisadores da área analisar as modificações que estão ocorrendo nos  oceanos a longo prazo.
“Não sabemos praticamente nada sobre o centro dos oceanos. Já em  relação às regiões costeiras, onde ocorrem os maiores impactos e são  mais fáceis de pesquisar, temos uma boa quantidade de informações,  principalmente sobre biodiversidade”, comparou.
Nesse sentido, Muelbert avalia como louvável a iniciativa da FAPESP  de financiar a aquisição de um navio oceanográfico que permitirá obter  mais dados sobre áreas oceânicas. “O navio possibilitará ao Brasil atuar  mais nessas regiões, das quais não dispomos de muitas informações”,  afirmou.
 
 
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