Por Marcos NeruberOs
golfinhos do litoral sul potiguar são tema de estudo do Departamento de
Fisiologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. A pesquisadora Nara Pavan Lopes com orientação da
professora Renata Sousa-Lima desenvolveu uma pesquisa intitulada
“Variação acústica nos botos-cinza”.
Fotos: Gustavo Toledo
Golfinhos do litoral sul potiguar são tema de estudo na UFRNOs
golfinhos são mamíferos aquáticos que habitam águas costeiras de baías e
estuários e podem sofrer influências diretas de seres humanos, através
de embarcações de turismo e pesca e poluição na água, por exemplo. Um
dos principais meios de comunicação usados por eles é o som e este pode
ser modificado de acordo com certas situações, como ruídos antrópicos
(embarcações) e do ambiente (outros animais e correntes marinhas),
tamanho de corporal (indivíduos maiores produzem sons diferentes de
menores) e interações sociais.
“O
comportamento acústico desses animais, então, pode revelar aspectos da
fisiologia e do estado social, por exemplo, o que é fundamental para
compreendermos seus comportamentos e sua ecologia no hábitat em que
vivem”, destaca Nara Lopes.
Esse estudo teve a
coleta de dados realizada em Baía Formosa, litoral sul do RN, onde há
uma população de golfinhos da espécie boto-cinza (Sotalia guianensis),
com 60 a 90 indivíduos, aproximadamente, entre fevereiro a maio de 2015.
Foi
utilizado um gravador e um hidrofone, microfone aquático, para gravar
um som específico emitido por esses animais, chamado assobio. “Esse som é
utilizado em interações sociais e têm se mostrado uma importante fonte
de variação entre os golfinhos. Até o presente estudo, não existiam
estudos baseados em dados acústicos desses animais no local coletado”,
destaca a pesquisadora.
Posteriormente foi
realizada uma comparação entre os dados obtidos em Baía Formosa e outros
locais do Brasil, Costa Rica e Venezuela, onde esses animais, também,
se localizam a partir de dados encontrados na literatura.
De
acordo com a pesquisadora, foi visto que os assobios desses animais
variam ao longo dos locais comparados e que foi encontrada uma
semelhança maior entre locais mais próximos no sul do Brasil (Paraty,
Baía de Guanabara e Baía de Sepetiba), contudo em locais mais ao norte,
que são próximos (Baía Formosa, Lagoa de Guaraíras e Pipa) isso não foi
visto e esses lugares distam aproximadamente 30 km, o que é uma
distância pequena para esses animais viajarem.
“Pode
haver uma mudança no ambiente desses animais (quantidade de barcos,
ruídos de outros animais, interações sociais diferentes, tamanhos de
indivíduos diferentes), que promova essa variação acústica. Pipa e Baía
Formosa mostraram uma variação grande e é sabido que possuem duas
populações diferentes e que não se comunicam, mesmo não havendo
barreiras físicas para impedir o trânsito de animais”, destaca Nara
Pavan Lopes.
Coleta de dados foi realizada em Baía Formosa, litoral sul do RN
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Segundo Nara Pavan Lopes, outra possibilidade que pode
ter
provocado essa variação é o tipo de equipamento usado, pois nos estudos
que foram comparados, coletou-se dados com frequências limite
diferentes, o que pode
ter impedido alguns deles de observarem assobios com frequências mais altas do que a frequência limite.
“O
som, nesse caso, se mostrou um importante fator para evidenciar a
existência de variação entre as populações e, se as vocalizações dessas
últimas se mostrarem cada vez mais distintas ao longo do tempo, somadas a
condições ecológicas e comportamentais distintas, isso poderá até
conduzir a divisões mais drásticas, como a especiação. Desse modo,
deve-se realizar um acompanhamento genético nessas populações, para que
essas análises, junto com as acústicas possam verificar tais padrões de
dispersão”, conclui a pesquisadora.
Fonte: AGECOM - UFRN.