"Quando uma forte chuva desabou sobre a Região Serrana do Rio na
noite de 11 para 12 de janeiro de 2011, ninguém estava preparado ou
podia prever a tragédia que se seguiu. Enxurradas e deslizamentos de
terra deixaram mais de 900 mortos e 300 pessoas desaparecidas, num dos
maiores desastres naturais a atingir o país. Mas foi justamente na
esteira desta catástrofe que o Brasil — poupado de terremotos, vulcões e
furacões, entre outros fenômenos devastadores — finalmente “acordou”
para a importância da gestão destes tipos de riscos. No mesmo ano, o
governo federal criou o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden) e fortaleceu outras instituições com o
objetivo de evitar novas tragédias.
Passados mais de quatro anos, profissionais de várias áreas
envolvidas no assunto estão reunidos no 30º Colóquio Brasileiro de
Matemática, que o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada
(Impa) promove esta semana no Rio. A ideia é trocar conhecimentos,
aprofundar a colaboração e atrair jovens pesquisadores para estudar as
muitas facetas do problema. E não são poucas as ferramentas da
matemática usadas nisso, destaca Leonardo Bacelar, pesquisador do
Cemaden e um dos coordenadores do evento.
— A matemática tem três níveis de interseção com a área de prevenção
de desastres — conta Bacelar. — O primeiro é a própria compreensão do
problema e a percepção do risco, afinal, é ela que usamos para entender o
mundo. Muitas vezes, vemos informações como “choveu X milímetros em
determinado lugar em duas horas”, mas poucos entendem o que quer dizer
este número solto. O segundo é a modelagem e a simulação de processos
físicos. Aqui saímos de um lado mais educacional para a prática, a
ciência da computação e a física. Vemos quais são os agentes
deflagradores de um cenário, no caso do Brasil basicamente fenômenos
meteorológicos, com duas ramificações bem definidas, na hidrologia e na
geodinâmica, isto é, enxurradas e inundações e deslizamentos de
encostas. Aqui, delizamentos são os desastres que mais matam, e as
inundações, os mais frequentes. Por fim, a matemática é fundamental para
estimar perdas e danos dos desastres, e quanto um município, por
exemplo, vai precisar para ser reconstruído.
Definidos estes níveis, é hora de colocar em prática estes
conhecimentos, o que já está acontecendo de forma cada vez mais
generalizada no país, diz Leandro Torres, professor de engenharia civil
da Escola Politécnica da UFRJ e de gestão de riscos hidrológicos na
Coppe/UFRJ:
—
O desastre da Região Serrana foi um marco na gestão de riscos no
Brasil. Sem dúvida, os estudos teóricos, as modelagens fazem toda a
diferença na hora em que acontece um desastre. Buscamos que ele impacte o
mínimo possível o sistema, o que se traduz na preservação de vidas,
bens e propriedades. Esse conjunto de conhecimentos trabalha na direção
de aumentar a resiliência de um sistema para diminuir seu risco. A
missão do Cemaden é tentar entender como os componentes de risco se
ligam, quando se desenha uma situação que pode ser um desastre, e emitir
um alerta quanto a isso. O Brasil está começando nesta área. Estamos
discutindo aqui mais um passo de um programa de pesquisa sobre a relação
entre fenômenos naturais e sistemas urbanos.
Por fim, como resume Haroldo de Campos Velho, pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, é fazer o máximo para que os
danos de um desastre natural sejam mínimos.
— Desastres vão acontecer, e as áreas de risco vão estar em risco. É
por isso que precisamos ter planos de prevenção e ação — afirma. — Estas
áreas têm de estar preparadas e serem alertadas, disparando um
protocolo de procedimentos, para que tenhamos o menor impacto. O ideal é
que a gente avise e não aconteça. Como um seguro, que a gente paga para
não usar, mas que, se tiver que usar, vai estar lá."
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