quarta-feira, 29 de julho de 2015

A matemática na prevenção de desastres naturais

"Quando uma forte chuva desabou sobre a Região Serrana do Rio na noite de 11 para 12 de janeiro de 2011, ninguém estava preparado ou podia prever a tragédia que se seguiu. Enxurradas e deslizamentos de terra deixaram mais de 900 mortos e 300 pessoas desaparecidas, num dos maiores desastres naturais a atingir o país. Mas foi justamente na esteira desta catástrofe que o Brasil — poupado de terremotos, vulcões e furacões, entre outros fenômenos devastadores — finalmente “acordou” para a importância da gestão destes tipos de riscos. No mesmo ano, o governo federal criou o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e fortaleceu outras instituições com o objetivo de evitar novas tragédias.
Passados mais de quatro anos, profissionais de várias áreas envolvidas no assunto estão reunidos no 30º Colóquio Brasileiro de Matemática, que o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) promove esta semana no Rio. A ideia é trocar conhecimentos, aprofundar a colaboração e atrair jovens pesquisadores para estudar as muitas facetas do problema. E não são poucas as ferramentas da matemática usadas nisso, destaca Leonardo Bacelar, pesquisador do Cemaden e um dos coordenadores do evento.
— A matemática tem três níveis de interseção com a área de prevenção de desastres — conta Bacelar. — O primeiro é a própria compreensão do problema e a percepção do risco, afinal, é ela que usamos para entender o mundo. Muitas vezes, vemos informações como “choveu X milímetros em determinado lugar em duas horas”, mas poucos entendem o que quer dizer este número solto. O segundo é a modelagem e a simulação de processos físicos. Aqui saímos de um lado mais educacional para a prática, a ciência da computação e a física. Vemos quais são os agentes deflagradores de um cenário, no caso do Brasil basicamente fenômenos meteorológicos, com duas ramificações bem definidas, na hidrologia e na geodinâmica, isto é, enxurradas e inundações e deslizamentos de encostas. Aqui, delizamentos são os desastres que mais matam, e as inundações, os mais frequentes. Por fim, a matemática é fundamental para estimar perdas e danos dos desastres, e quanto um município, por exemplo, vai precisar para ser reconstruído.
Definidos estes níveis, é hora de colocar em prática estes conhecimentos, o que já está acontecendo de forma cada vez mais generalizada no país, diz Leandro Torres, professor de engenharia civil da Escola Politécnica da UFRJ e de gestão de riscos hidrológicos na Coppe/UFRJ:
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— O desastre da Região Serrana foi um marco na gestão de riscos no Brasil. Sem dúvida, os estudos teóricos, as modelagens fazem toda a diferença na hora em que acontece um desastre. Buscamos que ele impacte o mínimo possível o sistema, o que se traduz na preservação de vidas, bens e propriedades. Esse conjunto de conhecimentos trabalha na direção de aumentar a resiliência de um sistema para diminuir seu risco. A missão do Cemaden é tentar entender como os componentes de risco se ligam, quando se desenha uma situação que pode ser um desastre, e emitir um alerta quanto a isso. O Brasil está começando nesta área. Estamos discutindo aqui mais um passo de um programa de pesquisa sobre a relação entre fenômenos naturais e sistemas urbanos. Por fim, como resume Haroldo de Campos Velho, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, é fazer o máximo para que os danos de um desastre natural sejam mínimos.
— Desastres vão acontecer, e as áreas de risco vão estar em risco. É por isso que precisamos ter planos de prevenção e ação — afirma. — Estas áreas têm de estar preparadas e serem alertadas, disparando um protocolo de procedimentos, para que tenhamos o menor impacto. O ideal é que a gente avise e não aconteça. Como um seguro, que a gente paga para não usar, mas que, se tiver que usar, vai estar lá."

 

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