terça-feira, 19 de maio de 2015

Professor do IFUSP cria equipamento para estudo das nuvens na Amazônia

Objetivo é entender o impacto da poluição na formação de nuvens na Amazônia; dados podem ser úteis para melhorar modelos meteorológicos e climáticos

Desenvolver um equipamento para medir a temperatura e o tamanho das gotas das nuvens que se formam na Amazônia – tanto na época das queimadas quanto na época “limpa”: esse é o objetivo do professor Alexandre Lima Correia, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP). Por meio do projeto Serena (Sensoriamento Remoto de Nuvens e Aerossóis), o equipamento vem sendo elaborado há cinco anos e, segundo Correia, está em fase final de testes.
Chamado por enquanto de Cloudscanner (escaneador de nuvens), o aparelho é composto por três câmeras de pesquisa. Uma faz a estimativa da temperatura das gotas, medindo a luz no infravermelho. Outra, que mede no infravermelho também, mas em outro comprimento de onda, infere o tamanho da gota. A terceira é uma câmera de astronomia. Ela capta a cor vermelha com alta precisão. “As duas variáveis chave no estudo são a temperatura e o tamanho das gotas. O que a gente está captando são imagens em cores diferentes, e cada uma tem uma função. Combinando todas essas informações, conseguimos obter a temperatura de uma porção da nuvem, o tamanho médio da gota naquela porção e se aquele pedacinho de nuvem é composto por gelo, água ou ambos”, esclarece.
Segundo ele, o primeiro protótipo começou a ser idealizado em 2005 pelo professor José Vanderlei Martins, que hoje ensina nos EUA. “Trabalhamos juntos na NASA. Eu utilizei algumas ideias dele, e construí o meu protótipo. Ele tem a versão dele também”, credita Correia.
A escolha da Amazônia para realizar as medidas se deve às situações muito bem delimitadas que existem na região: os céus da floresta tropical apresentam uma época muito limpa e outra muito poluída todos os anos, por conta das queimadas. “Faço muitas medidas para entender como as nuvens se comportam em época sem poluição, e posso comparar com as medidas das nuvens poluídas da época das queimadas. Então consigo entender como a poluição por queimadas – que acontecem todo ano durante três meses – pode afetar as nuvens numa região muito importante para o clima do Brasil e do mundo”, explica o físico.
Ele assevera que os dados obtidos devem ajudar a tornar mais exatos tanto os modelos climáticos (de longo prazo) quanto os meteorológicos (de curto prazo). “Os modelos meteorológicos que existem hoje não conseguem explicar a chuva rápida que cai na Amazônia, por exemplo. A nuvem se forma e, em meia hora, já está chovendo. Os melhores modelos hoje conseguem prever uma chuva dentro de uma hora. Não conseguimos sequer explicar um fenômeno tão simples como esse, quanto mais prever a quantidade de nuvens que vai haver daqui a 50 anos, que é uma das atribuições dos modelos climáticos”, compara Correia. Segundo ele, ainda há muitas incertezas sobre a dinâmica de nuvens e clima, porque ainda não entendemos como as nuvens funcionam; e como as nuvens refletem uma fração significativa da radiação solar, os impactos no clima previstos ainda divergem muito de modelo para modelo.
Aerossóis – Ele explica que a nuvem só se forma porque existem partículas atmosféricas, chamadas de aerossóis: pólen, fragmentos de folhas, partículas de solo… A água se condensa em torno dessas partículas para formar as gotículas das nuvens. Portanto, o primeiro efeito da poluição é colocar mais partículas à disposição na atmosfera. Se existe uma quantidade fixa de água e ela se divide num número muito maior de catalisadores, as gotas ficarão menores. Se as gotas forem menores de 14 micrometros de raio, a precipitação não ocorre.
“Muita poluição inibe a formação de chuva”, resume o físico, salientando que isso não quer necessariamente dizer que vai chover menos na região daqui a algumas décadas. “É dificílimo prever, porque existem outras variáveis e não temos modelos nem computadores que deem conta disso”.
Correia diz que os dados gerados por ele e sua equipe podem permitir simulações e comparações. “É possível pegar um cenário em que se continue a emitir como no padrão atual – business as usual – e simular como as nuvens se comportam, para depois comparar com a simulação feita com base em um padrão de real controle de emissões. Ou seja: é possível inferir o que podemos ganhar climaticamente se controlarmos a poluição”, revela. O projeto de pesquisa vem sendo patrocinado pela Fapesp e pelo CNPq, e custou até agora R$ 400 mil.

Assessoria de imprensa do JConline

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