Agência FAPESP – A revista científica norte-americana Science acaba de publicar uma edição especial
sobre as consequências do desaparecimento de espécies animais para a
biodiversidade do planeta e para o próprio futuro da humanidade.
“Durante o Pleistoceno, apenas dezenas de milhares de anos atrás,
nosso planeta sustentava animais grandes e espetaculares. Mamutes, 'aves
do terror', tartarugas gigantes e tigres-dentes-de-sabre, bem como
espécies muito menos conhecidas, como preguiças gigantes (algumas das
quais chegavam a 7 metros de altura) e gliptodontes (que pareciam tatus
do tamanho de automóveis), vagavam livremente”, diz a introdução do
especial.
“Desde então, no entanto, o número e a diversidade de espécies
animais na Terra têm declinado consistente e firmemente. Hoje, ficamos
com uma fauna relativamente depauperada e continuamos a ver a rápida
extinção de espécies animais. Embora algum debate persista, a maioria
das evidências sugere que os seres humanos foram responsáveis pela
extinção dessa fauna do Pleistoceno, e continuamos a induzir extinções
de animais por meio da destruição de terras selvagens, da caça para
consumo ou como luxo e da perseguição de espécies que vemos como ameaças
ou concorrentes”, destaca o texto.
O especial traz artigos em que pesquisadores de diversos países citam
espécies animais que estão desaparecendo, os complexos fatores por trás
do processo de defaunação e as dificuldades para colocar em prática
alternativas eficazes de conservação.
Um dos artigos do especial, Defaunation in the Anthropocene, tem entre seus autores o professor Mauro Galetti,
do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
campus de Rio Claro, responsável por projetos de pesquisa que integram o
programa BIOTA-FAPESP.
O artigo de Galetti, produzido em colaboração com pesquisadores dos
Estados Unidos, do México e do Reino Unido, ressalta que o mundo está
passando por uma das maiores extinções de animais em sua história.
De acordo com os autores, a onda global de perda de biodiversidade
tem a ação humana como principal causadora. Mas os impactos humanos
sobre a biodiversidade animal representam uma forma ainda não
reconhecida de mudanças ambientais globais.
“Dos vertebrados terrestres, 322 espécies se tornaram extintas desde
1500, e populações das espécies restantes mostram declínio médio de 25%
em abundância”, dizem os autores.
“Tais declínios animais impactarão o funcionamento de ecossistemas e o
bem-estar humano. Muito permanece desconhecido sobre a ‘defaunação
antropocênica’. Essas lacunas de conhecimento dificultam a nossa
capacidade de prever e limitar os impactos da defaunação. Claramente, no
entanto, a defaunação é tanto um componente pervasivo da sexta extinção
em massa do planeta como também um grande condutor de mudança ecológica
global”, destacam.
Segundo Galetti e colegas, de todas as espécies animais atuais –
estimadas entre 5 milhões e 9 milhões –, o mundo perde anualmente entre
11 mil e 58 mil espécies. E isso não inclui os declínios de abundância
animal entre populações, ou seja, de espécies que agonizam lentamente.
“A ciência tem se preocupado com o impacto das extinções das
espécies, mas o problema também envolve a extinção local de populações.
Algumas espécies podem não estar globalmente ameaçadas mas podem estar
extintas localmente. Essa extinção local de animais afeta o
funcionamento dos ecossistemas naturais vitais ao homem. Nesse trabalho
agora publicado, compilamos dados populacionais de grandes mamíferos,
como rinocerontes, gorilas e leões, e também de invertebrados, como
borboletas. Uma em cada quatro espécies de vertebrados tem suas
populações reduzidas”, disse Galetti, em entrevista ao site da Unesp.
“A maioria dos pesquisadores analisa os efeitos humanos sobre a
extinção das espécies e, nesse trabalho, nós enfocamos a extinção local
de populações. A extinção de uma espécie tem um grande impacto, e a
redução das populações animais causa um impacto maior ainda nos
ecossistemas”, disse.
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