Grande parte dos brasileiros está há quase seis meses olhando
angustiada para o céu – por que ficaram religiosos de repente? Esperam
um milagre dos deuses ou de São Pedro, o porteiro do reino do céus?
Parte dos aflitos examina as nuvens à espera de chuva forte, de
preferência prolongada – o Sudeste vive a pior estiagem das últimas
décadas. Em compensação, os brasileiros que vivem no Norte, às margens
do rio Madeira, não desgrudam os olhos das suas nuvens pois o rio
transbordou e está encharcando perigosamente uma região já encharcada.
A verdade é que a meteorologia, a previsão do tempo, é uma ciência que
sucede a ecologia, a relação do homem com o ambiente. De nada adianta
acender velas suplicando pela formação de nuvens negras se as nossas
cidades são cada vez mais cinzentas, transformadas em fábricas de
toxinas e nossas matas perdem suas árvores e viram pastos. A natureza é
obediente, faz exatamente o que determinamos que faça.
Antes de olhar o céu convém examinar as páginas dos jornais e as telas
da tevê. Enquanto a mídia não nos convencer de que quem faz o tempo
somos nós, enquanto não aprendermos que quem faz o clima é a humanidade,
continuaremos sujeitos às angústias por causa de secas e dilúvios. A
água pode ser bênção ou maldição, a dose certa depende da nossa
capacidade de entendê-la e de conservá-la. Ser verde não é uma opção
cromática, é uma forma de garantir a nossa sobrevivência.
O verdadeiro mandachuva é o próprio homem contemporâneo.
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