Por Fernando Cunha, de Londres
Agência FAPESP – Pesquisadores brasileiros e britânicos têm
sobrevoado a Amazônia desde setembro de 2012, usando equipamentos
avançados para investigar como as queimadas na região alteram o clima
local e de todo o planeta.
Eles participam do projeto South American Biomass Burning Analysis (Sambba), uma das iniciativas da Rede Brasil-Reino Unido de Investigação da Composição da Atmosfera da Amazônia
apresentadas pelos professores Paulo Artaxo, do Instituto de Física da
Universidade de São Paulo (USP), e Gordon McFiggans, da University of
Manchester, no painel sobre mudanças climáticas da FAPESP Week London 2013.
“A Amazônia oferece uma oportunidade única de pesquisa e, do ponto de
vista científico, é muito interessante tentar entender a complexa rede
de interações entre clima, biologia, atmosfera, química, física, além de
fatores socioeconômicos e aspectos da biodiversidade”, disse Artaxo.
Durante a sessão, foram apresentados vários projetos conjuntos
desenvolvidos por pesquisadores do Reino Unido e do Brasil com foco nos
fenômenos resultantes da relação biosfera-atmosfera na Amazônia.
O painel também teve a participação dos pesquisadores Luciana Gatti,
do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), associado à
USP, e Hartmut Boesch, da Universidade de Leicester, no Reino Unido.
Os participantes do Sambba usam os equipamentos avançados para
coletar dados sobre a composição química e as propriedades físicas da
fumaça emitida nas queimadas.
Eles também investigam como as partículas sólidas e os gases lançados
na atmosfera em decorrência do fogo e do metabolismo da vegetação
modificam a composição das nuvens, alteram a química da atmosfera e
interagem com a radiação solar.
O Sambba é desenvolvido por meio de parceria entre a USP, o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a University of Manchester e o
serviço meteorológico britânico (UK-Met-Office). O projeto tem apoio da
FAPESP e do Natural Environment Research Council (Nerc), um dos sete
conselhos de pesquisa do Reino Unido, que financiou parte do custo de um
avião usado em sobrevoos na Amazônia.
A cooperação com pesquisadores da University of Manchester estabelece
uma rede de estudos sobre os ciclos de aerossóis e a formação de
nuvens. O efeito da queima de biomassa, das precipitações e as relações
entre radiação também estão entre os tópicos focados pela rede.
Outras vertentes de estudos que interessam à rede são a expansão da
agricultura, as mudanças climáticas e processos que podem provocar perda
de biodiversidade e afetar o funcionamento de ecossistemas, disse
Artaxo.
“A colaboração que mantemos há muitos anos com pesquisadores
brasileiros tem sido bastante produtiva, mas a estrutura dos acordos,
agora mais numerosos com o Reino Unido, nos permite atividades únicas
para aumentar o conhecimento sobre os recursos ambientais no Brasil e
aproveitar ainda mais a capacidade de pesquisa de cientistas brasileiros
e britânicos em projetos conjuntos”, disse McFiggans.
Projeto Amazonica
Desde janeiro de 2000, a equipe da professora Luciana Gatti realiza
medições para estabelecer o ciclo de carbono na região de Santarém, no
Pará. Ampliado em 2010 com a formação do consórcio Amazonica, o
projeto apoiado pela FAPESP e pelo Nerc passou a incluir as regiões das
estações meteorológicas de Rio Branco e Tabatinga entre as áreas de
coleta de dados para aumentar a compreensão sobre o balanço de emissões.
Situadas no oeste do Estado do Amazonas, essas áreas podem oferecer
informações mais completas sobre grande parte da Bacia Amazônica. “Os
dados atmosféricos coletados nessas duas estações agregam informações
sobre absorção e emissão de carbono e outros gases levados pela massa de
ar que percorre todo o estado, desde a costa”, explicou Gatti.
Segundo a pesquisadora, ainda são necessárias coletas e análises por
períodos mais longos, porque, além das variações climáticas em curso, as
observações devem considerar as influências de diferentes ecossistemas e
as características específicas da vegetação e do solo nas áreas de
coleta, entre outros parâmetros.
Medições por satélites
Harmut Boesch, da Universidade de Leicester, participa do projeto “The UK-Brazil Reseach Network for an Amazonian Carbon Observatory”,
iniciado há um ano em São Paulo. A hipótese central da colaboração com o
Ipen, com apoio do Nerc e da FAPESP, é descobrir se satélites podem
ajudar a entender o funcionamento do ciclo de carbono e o fluxo de gases
de efeito estufa na Amazônia, levantando dados sobre a composição da
atmosfera levando em conta a grande variabilidade da região. “Essa linha
de pesquisa ainda é muito nova, mas oferece grande potencial”, disse o
pesquisador.
“Queremos usar os dados coletados em sobrevoos realizados no âmbito
do projeto coordenado por Luciana Gatti e estabelecer a possibilidade de
comparar as observações de satélites com esses dados. Se isso for
confirmado, pretendemos preencher as lacunas existentes nas atuais
medições”, disse. Os dados obtidos em voos são coletados em três pontos
diferentes, duas vezes por mês, e os satélites podem observar toda a
região. Com o uso dos dois métodos, segundo Boesch, as emissões e a
absorção de carbono poderão ser quantificadas com muita precisão em todo
o território.
O grande reservatório de carbono existente no solo da Amazônia tem um
importante papel no ciclo de carbono global. Entretanto, ainda há
poucos dados para integrar análises sobre os ciclos de carbono na
região. “Os dados produzidos poderão ser usados para o monitoramento do
fluxo de gases de efeito estufa sobre a Amazônia e para a adaptação de
modelos que poderão ser utilizados para previsão de cenários futuros”,
disse Boesch.
Realizada pela FAPESP, de 25 a 27 de setembro, em Londres, com apoio
da Royal Society e do British Council, a FAPESP Week London discute
temas avançados de pesquisa e busca ampliar oportunidades de colaboração
entre cientistas brasileiros e europeus nos campos da Biodiversidade,
Mudanças Climáticas, Ciências da Saúde, Bioenergia e Nanotecnologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário