segunda-feira, 17 de junho de 2013

Monitoramento independente vê aumento de desmate na Amazônia

GIOVANA GIRARDI

 Um levantamento independente do desmatamento da Amazônia aponta uma inversão da tendência de queda da perda florestal que vem se observando nos últimos anos. Em maio, o sistema de monitoramento de imagens de satélite SAD, do instituto de pesquisa Imazon, detectou 84 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal. Um aumento de 97% em relação a maio do ano passado, que registrou 42,5 km². Considerando o acumulado de agosto a maio, o desmatamento totalizou 1.654 km², 89% superior ao mesmo período do ano anterior, que somou 873 km².
Se esse ritmo se mantiver nos meses de junho e julho, tradicionalmente os de maior avanço do corte raso, por ser período de seca, o desmatamento total pode passar de 6 mil km², estima Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon. Segundo ele, esses dois meses costumam representar 30% do total. “Ao menos que nesses meses o desmate seja excepcionalmente baixo, vai ocorrer um aumento expressivo”, alerta.
A avaliação, apesar de obtida a partir da análise das mesmas imagens de satélite usadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não é considerada pelo governo. São os dados do Inpe que compõem o cenário oficial de desmatamento. No início do mês, por exemplo, o órgão apontou que o desmatamento de agosto de 2011 a julho de 2012 (meses que marcam o início e o fim do calendário de monitoramento) foi o menor da história do monitoramento – caiu 29% em relação ao período anterior, chegando a 4.571 km².
O próprio Inpe, porém, tem mostrado algumas mudanças de lá para cá.  De agosto do ano passado a fevereiro deste ano o órgão informou que o desmatamento cresceu 26,6% (na comparação com o intervalo ago/2011 a fev/2012). O anúncio seguinte, sobre o bimestre março e abril deste ano, trouxe queda de 66%, sempre comparando com o mesmo período do ano anterior. Ainda não foram divulgados os dados de maio.
Fatores como nuvens impedindo a visualização (bastante comuns no período de chuvas, que vai até março) e a forma de análise das imagens, que difere entre os dois institutos, não raro resulta em diferenças entre os números obtidos. Mas, em geral, eles batem em relação à tendência sobre o que está acontecendo na região. O Imazon, no entanto, por atuar na região do Pará, também faz muitas parcerias em campo com o governo do Estado e com o Ibama, o que permite acompanhar de perto o que está acontecendo e também facilita a checagem de alguns dados in loco.
“Tem coisas que o SAD não detecta, mas em campo a gente vê. A região de Castelo dos Sonhos, por exemplo, estava completamente coberta de nuvens. Ninguém via nada, nem conseguia sobrevoar o local. Quando foi possível chegar lá, se encontrou um desmatamento de 6 mil hectares. Daqui para a frente, como a tendência é ter menos nuvens, vamos ter uma noção melhor do estrago”, diz Veríssimo.
Ele afirma, com base em pesquisas em campo sendo feitas pelo Imazon, que o maior gargalo no momento é o chamado desmatamento especulativo, principalmente nas regiões do oeste do Pará e sudeste do Amazonas. E que ocorre mesmo debaixo de chuva, justamente porque é mais difícil enxergar e também de a fiscalização chegar até lá.
“É gente que derruba com a expectativa de que uma hora vai conseguir regularizar a terra e vendê-la”, diz. “Praticamente, não se vê mais o desmate de quem está na cadeia produtiva e quer aumentar sua área para plantar ou pôr gado. Nesses casos, os mecanismos de comando e controle do governo têm funcionado. Mas o governo vai ter de mudar a estratégia, talvez deixar claro que essas áreas desmatadas para especulação não vão nunca ser regularizadas. Aí cria um prejuízo e pode ser que a prática estanque”, diz.

Fonte: portal Estadão 
 


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