O papel desempenhado pelo Brasil na área de ciência do sistema terrestre
nos trópicos e no hemisfério sul foi destacado nesta terça-feira (19)
pelo pesquisador Guy Brasseur, diretor do Centro de Serviços Climáticos
da Alemanha. Ele fez a palestra magna de abertura do workshop sobre o
Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM, na sigla em inglês),
realizado em São Paulo. No encontro, o secretário de Políticas e
Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, traçou um breve histórico
sobre o modelo, do qual foi um dos idealizadores.
“O país está capacitado para assumir a liderança na apresentação de um
modelo que possibilite à comunidade dos cientistas envolvidos com o
tema se intercomunicar com mais frequência e profundidade”, disse
Brasseur no workshop, organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp). O convidado ressaltou a condição
estratégica da Amazônia no contexto das mudanças globais e avaliou que o
governo e a sociedade brasileiros vêm se sensibilizando mais
rapidamente às questões do clima – em contraste, inclusive, com muitos
dos países desenvolvidos.
O BESM, que será a contribuição brasileira para o próximo relatório do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR-5), é
coordenado pelo Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), pelo Programa Fapesp de
Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), pela Rede Brasileira
de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e pelo
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas
(INCT-MC), os dois últimos sediados no Inpe.
Em sua apresentação, o palestrante afirmou que o país tem, entre seus
grandes desafios, o de aprender a lidar com problemas complexos do
sistema terrestre, como as interações biosfera-atmosfera, a física de
nuvens e a química da atmosfera. “É preciso formar uma nova geração de
cientistas para estudar essas questões e responder às necessidades das
atividades humanas, atendendo às particularidades do hemisfério sul”,
explicou. “Atualmente, dependemos dos modelos do hemisfério norte para
desenvolver os cenários”.
Compartilhamento
O pesquisador – que já dirigiu o Centro Nacional de Pesquisas
Atmosféricas (NCAR), dos Estados Unidos – ressaltou ainda a importância
de se criar uma estratégia de transferência do conhecimento sobre o
sistema terrestre para a sociedade: “Temos que entender o que está
acontecendo, mas temos a responsabilidade de repassar e compartilhar
esse conhecimento que é, na verdade, uma coprodução entre vários
indivíduos, de diferentes atividades e diferentes disciplinas”. Para
tanto, a seu ver, é urgente resgatar o diálogo entre as ciências
naturais e as sociais.
Para compreender e superar os impactos das mudanças climáticas, a
comunidade científica deverá enfrentar quatro grandes desafios, segundo
Brasseur: 1) desenvolver uma previsão numérica de tempo e clima
confiável; 2) conseguir prever as mudanças climáticas; 3) entender que a
terra é um complexo sistema de interações; 4) responder às mudanças
climáticas globais. “Para isso, são necessários bons modelos.
Atualmente, é impossível construir sozinho um modelo climático. É
necessário um grande esforço internacional, uma grande rede que permita a
integração de modelos por vários séculos, e o Brasil está inserido
nesse contexto”.
O secretário Carlos Nobre, pesquisador do Inpe, justificou a opção do
Brasil de desenvolver seu próprio modelo climático, em vez de utilizar
os já existentes, como uma estratégia visando ao desenvolvimento da
ainda pequena comunidade científica nessa área, no país, e à introdução
de aspectos mais típicos do hemisfério Sul.
Segundo avaliou, o país consolidou avanços na área nas últimas décadas,
particularmente no que diz respeito a capacidade de processamento de
dados, infraestrutura de campo e laboratorial e pesquisa oceânica. O
representante do MCTI destacou também a formação de doutores e
pós-doutores no período.
Resultados
O pesquisador Paulo Nobre (Rede Clima/Inpe), coordenador do projeto do
Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre, apresentou os principais
resultados até o momento, com destaque para a contribuição inédita do
Brasil ao próximo relatório do IPCC. Serão apresentados cenários
climáticos com projeções computadas por uma versão aprimorada do BESM. Leia mais.
Texto: Ascom do Inpe e Ascom do MCTI
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