ARLINGTON (EUA), GLAND (SUÍÇA) e PARIS
(FRANÇA) - A destruição dos ecossistemas costeiros como manguezais,
brejos e terrenos alagadiços à beira mar, que armazenam grande
quantidade de carbono, está liberando grandes quantidades de dióxido de
carbono (CO2) no oceano e na atmosfera, de acordo com o Grupo de
Trabalho Internacional para Carbono Azul Costeiro.
O grupo, formado por 32 cientistas de
11 países, revelou em reunião em Paris que o conhecimento existente
sobre estoques de carbono e emissões causadas pela degradação ou
conversão de ecossistemas costeiros é “suficiente para justificar ações
imediatas de melhoria do manejo desses ecossistemas”.
O Grupo de Trabalho foi criado como
um passo inicial no avanço das metas científicas, políticas e de manejo
da Iniciativa Carbono Azul, cujos membros fundadores incluem a
Conservação Internacional (CI), a União Mundial para a Conservação da
Natureza (IUCN, da sigla em inglês), e a Comissão Intergovernamental
Oceanográfica (IOC) da UNESCO.
Apelidado de “carbono azul” por sua
habilidade de seqüestrar e armazenar grandes quantidades de carbono,
tanto nas plantas quanto nas camadas mais profundas do solo, esses
ecossistemas marinhos podem conter até cinco vezes mais carbono do que
em florestas tropicais. Em algumas áreas eles contêm até 50 vezes mais
carbono do que em algumas áreas de florestas.
“Há algum tempo já sabemos da
importância dos ecossistemas costeiros para a pescaria e a proteção
contra tempestades e tsunamis. Agora estamos vendo que, se destruídos
ou degradados, esses ecossistemas costeiros se tornam grandes emissores
de CO2, e essa emissão é feita de forma lenta, por muitos anos. Em
outras palavras, é como uma hemorragia longa e lenta, difícil de
estancar. Então, precisamos urgentemente interromper a perda desses
ecossistemas ricos em estoque de carbono para desacelerar as mudanças
climáticas”, afirma a Emily Pidgeon, diretora do Programa Marinho de
Mudanças Climáticas da Conservação Internacional.
A drenagem de terrenos alagadiços à
beira-mar, como manguezais e brejos, libera um quarto de milhão de
toneladas de CO2 por quilômetro quadrado para cada metro de solo que é
perdido. Dados globais mostram que brejos e manguezais estão sendo
degradados ao longo das regiões litorâneas de todo o mundo a um ritmo
acelerado. Entre 1980 e 2005, 35 mil quilômetros quadrados de
manguezais foram destruídos globalmente – uma área do tamanho da
Bélgica. Essa área ainda continua a liberar até 0.175 giga-toneladas de
CO2 a cada ano – equivalente às emissões anuais de países como a
Holanda ou a Venezuela.
“Estudos científicos têm demonstrado
que, apesar de alguns manguezais, terrenos alagadiços e brejos
representarem menos de 1% da biomassa total das plantas em terra e em
florestas, neles circulam quase a mesma quantidade de carbono que os
99% restantes. Dessa forma, o declínio desses ecossistemas tão
eficientes em estocar carbono é uma causa válida de preocupação”,
alerta Wendy Watson-Wright, diretor da IOC.
No decorrer de 3 dias de reuniões em
Paris, cientistas apresentaram as prioridades e recomendações para
ações imediatas, que incluem:
• Intensificação nas
pesquisas nacionais e internacionais: tais como desenvolvimento de
metodologias de inventário e contabilidade para carbono costeiro;
realização de inventários de carbono; realização de pesquisa e
monitoração para quantificar com mais precisão as emissões de gases de
efeito estufa causados pela perda de ecossistemas costeiros; e o
estabelecimento de rede de demonstrações em campo para aumentar a
capacitação e colaboração de comunidades.
• Melhoria do manejo local e
regional: tais como identificar e reduzir as principais causas da
degradação de sistemas costeiros ricos em carbono – entre elas o
desenvolvimento urbano, a agricultura, a aquicultura, a poluição, a
drenagem e a introdução de construções artificiais –, o reforço das
políticas de proteção de sistemas costeiros ricos em carbono e a
restauração de sistemas perdidos/degradados.
• Maior reconhecimento
internacional dos ecossistemas costeiros ricos em carbono: por meio de
entidades internacionais estabelecidas tais como o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) e
a Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Os cientistas enfatizaram que a
melhoria no manejo de ecossistemas costeiros não visa a se tornar um
bloqueio para o desenvolvimento dos países, e sim uma estratégia para
priorizar a conservação de zonas costeiras específicas, únicas, de alto
potencial para estocar CO2. Eles recomendam que os tomadores de
decisão reconheçam mais os serviços vitais que essas áreas oferecem à
humanidade e priorizem sua proteção.
“A capacidade das zonas costeiras de
reduzir a mudança climática ao capturar e armazenar CO2 é considerável,
mas tem sido ignorada”, declara Jerker Tamelander, gerente de Oceanos e
de Mudança Climática da IUCN. “Se valorizados e geridos adequadamente,
os ecossistemas costeiros podem ajudar muitos países a cumprir com suas
metas de mitigação ao mesmo tempo em que ajudam com a adaptação em
áreas costeiras vulneráveis.”
O grupo de trabalho se reunirá
novamente em agosto e continuará seu estudo científico colaborativo. A
Fundação Waterloo, a NASA e o Programa Ambiental das Nações Unidas
(Pnuma) financiaram os trabalhos do grupo.
Para ler todas as recomendações dos
cientistas, clique aqui.
A matéria acima foi publicada no portal UOL no ano passado. Mas, o assunto é atual.
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