Ricardo Araújo - repórter, em matéria da TN
Mesmo
com todos os avisos de estudiosos e os inúmeros prejuízos financeiros
já registrados ao longo do litoral potiguar, o poder público não tem
qualquer projeto que vise amenizar os efeitos do avanço do mar no Rio
Grande do Norte. Estudos apontam há décadas que o problema é sério e só
tende a piorar. Além de Ponta Negra - que está em estado de calamidade
devido a destruição do calçadão - outras 16 praias do litoral têm
situação crítica em relação à erosão. A TRIBUNA DO NORTE visitou algumas
dessas praias e mostra o cenário de destruição e as tentativas
frustadas de impedir o avanço das águas.
projetos para conter o avanço do mar
Os
sábios afirmam que contra a força da natureza não há muralha, obra de
engenharia ou invenção tecnológica que resista, quando aquela se
manifesta de forma abrupta. Seja através dos ventos, tempestades ou pelo
movimento das marés, as ações naturais, em alguns casos, causam
devastação e alertam populações quanto ao desenfreado e irresponsável
crescimento das cidades em áreas irregularmente ocupadas. Especialistas
afirmam que o cenário de guerra que se formou na praia de Ponta Negra
nos últimos dias é a prova de inúmeras ações humanas inconsequentes.
Esta
realidade, porém, não se resume somente a um dos mais conhecidos
cartões postais do Rio Grande do Norte. Os processos erosivos afetam
mais de 60% das praias potiguares e causam, além de tristeza e
frustração, prejuízos econômicos aos moradores que assistem suas casas
serem levadas pelas águas do mar. "Se tivesse sido só a casa, tudo bem. A
gente construiu outra. Mas são lembranças de uma vida", relembrou o
pescador aposentado Emanoel Joaquim Filho, de 67 anos. Debaixo do que
restou da estrutura do antigo Mercado Público de Caiçara do Norte, às
margens do mar, ele aponta onde era sua casa, distante cerca de 50
metros praia adentro. "O mar foi avançando e destruindo tudo. Nós
tivemos que ir recuando. E continua avançando", adverte Emanoel.
Ao
longo de 50 anos, três ruas foram levadas pelas marés naquele
município. Os 14 gabiões - estruturas de pedra bruta revestida por
telas de proteção - de 45 metros comprimento e quatro de altura,
erguidos a partir de 1986 com o intuito de reduzir o impacto da quebra
das ondas, não impede que o mar avance cidade a dentro nos períodos de
ressaca, entre os meses de dezembro e fevereiro. "As primeiras
destruições causadas pelo avanço das marés ocorreram nos anos 80.
Existia uma faixa de quase 100 metros para chegar no mar, hoje tem menos
da metade", comenta o presidente da Colônia de Pescadores de Caiçara do
Norte, Godofredo Nunes Cacho. O processo de erosão que ocorre em
Caiçara do Norte atinge pelo menos mais quatro praias potiguares de
forma severa - Graçandú, São Bento do Norte, Touros e Macau - e,
coincidentemente, todas localizadas no litoral setentrional (parte Norte
do estado).
PROCESSO
De
acordo com o professor do Departamento de Geografia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marcelo dos Santos Chaves, o
avanço do mar é um processo geológico milenar e que tem ligação direta
com a mudança do eixo da Terra. "Em alguns milhões de anos, já foram
identificados 16 processos de aquecimento e resfriamento global. O
aumento ou diminuição do nível do mar é cíclico e a culpa do que está
atualmente ocorrendo é do homem, que constrói em locais inadequados e
não respeita a legislação", afirma. O professor faz referência à Lei
9.760 de 1946, que discorre sobre os terrenos de marinha, que
compreendem uma faixa de 33 metros de terra a contar da preamar média de
1831 no sentido da costa. Esta quantidade de metros corresponde,
segundo relatos históricos, a 15 braças, que seria a largura suficiente
para um exército marchar em defesa do Rei de Portugal.
Nas
regiões mais povoadas ou cobiçadas do litoral potiguar, seja pelas
belezas naturais ou pelo potencial turístico, além do trecho de marinha
não ser respeitado, os bancos de areia foram reduzidos em até 180 metros
com o avanço do mar. "Em menos de 10 anos, o mar já invadiu quase 200
metros na praia da Soledade, em Macau", relata o professor Marcelo
Chaves. Ele destaca, entretanto, que o avanço do mar é um processo lento
e gradual que não ocorre do dia para a noite. "Há inúmero pontos de
erosão no RN que são pouco conhecidos", alerta. A erosão costeira atinge
hoje cerca de 57% das praias de todo o planeta e os custos para a
recuperação dos trechos erodidos são bilionários. A União Europeia, por
exemplo, gastou cerca de 3,2 bilhões de euros em 2003 na tentativa de
recuperar as praias.
Olá professor, tudo bem?
ResponderExcluirFico com uma pulga atrás da orelha quando ouço falar em ciclos. Gostaria de entender a precisão com que esses ciclos foram/são calculados, já que não seria possível observá-los devido aos seus longos períodos. Sendo assim, isso pode gerar desconfiança?
Obrigado e adorei o blog.