terça-feira, 19 de junho de 2012

Agricultura sustentável

Sustentabilidade agrícola requer abordagem sistêmica

Por Fábio de Castro, do Rio de Janeiro
Agência FAPESP – A agricultura sustentável é um conceito mais complexo do que parece à primeira vista. Se o princípio não for bem compreendido, implementado com uma abordagem sistêmica e gerenciado na escala correta, pode até agravar os impactos ambientais das atividades agrícolas, em vez de reduzi-los.
O alerta foi feito pelo cientista britânico Tim Benton, coordenador do Programa de Segurança Alimentar Global da Universidade de Leeds (Reino Unido), durante o “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, realizado no Rio de Janeiro.
De acordo com Benton, o conceito de agricultura sustentável é frequentemente mal construído e, portanto, mal compreendido e mal aplicado.
“É preciso atingir um equilíbrio entre o uso da terra para produção e o uso para a conservação da biodiversidade. Paisagens diferentes têm vocações para diferentes esquemas agroambientais. A agricultura sustentável precisa ser gerenciada de forma sistêmica, na escala da paisagem, não apenas com foco isolado nas fazendas, nem só em escala nacional”, disse à Agência FAPESP.
Segundo Benton, agricultura sustentável é um conceito que todos pensam entender, mas é muito raro que as pessoas – incluindo os gestores – percebam sua verdadeira complexidade. Em primeiro lugar, de acordo com ele, é preciso levar em conta que uma fazenda causa inúmeros impactos cruzados no meio ambiente, por exemplo, na qualidade da água nos corpos d’água, no uso da terra e na biodiversidade.
“Há muitos impactos e, para diminuí-los, é preciso abrir mão de algum ganho. A atividade agrícola de baixo carbono, para produzir o mesmo rendimento da agricultura tradicional, tipicamente vai demandar mais terra, para compensar as perdas”, disse.
“Ao usar mais terra, a atividade agrícola terá mais efeito na biodiversidade. A agricultura de baixo carbono pode, no fim da cadeia, causar um grande impacto na biodiversidade. A partir de uma perspectiva mais ampla, não é trivial calcular qual tipo de agricultura é mais sustentável”, afirmou Benton.
Outra questão que dá complexidade à ideia de agricultura sustentável é a escala em que ela é gerenciada. As consequências do gerenciamento de uma gleba de terra não se limitam apenas àquele local, de acordo com o cientista britânico.
“Quando se gerencia uma fazenda, os impactos dessa atividade extrapolam o território em questão. É o que ocorre com os gases de efeito estufa sendo liberados na atmosfera, que têm impacto global. Os impactos na qualidade da água dos córregos e rios podem chegar a uma distância muito longa, causando nitrificação de costas marítimas de pesca a partir da poluição dos cursos d’água no continente”, afirmou.
O quadro fica ainda mais complexo quando se consideram os impactos nos mercados. “Pode-se reduzir o rendimento agrícola em um país por achar que isso é mais sustentável. Mas a demanda continuará a mesma, ou até aumentará ainda mais. Assim, se você reduz o rendimento, alguém, em algum lugar, vai precisar aumentar o rendimento. E isso vem com impactos ambientais negativos”, disse Benton.

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