Agência FAPESP – A Academia Brasileira de Ciências (ABC)
divulgou, na sexta-feira (12/12), a “Carta de São Paulo”, um documento
com análises e recomendações para enfrentar a crise hídrica no Sudeste.
Redigido sob a coordenação do pesquisador José Galizia Tundisi, do
Instituto Internacional de Ecologia (IIE), o documento pede, por
exemplo, modificações imediatas no sistema de governança dos recursos
hídricos.
“É absolutamente necessário e imprescindível modernizar e dinamizar
os sistemas de gestão”, afirmam os cientistas na carta. “As alterações
devem ser implantadas de forma a promover mudança da gestão setorial, de
resposta e em nível local, para uma gestão preditiva, integrada e em
nível de ecossistema (bacia hidrográfica), levando em conta os processos
ecológicos, econômicos e sociais.”
O documento foi elaborado após o simpósio “Recursos hídricos na
Região Sudeste: segurança hídrica, riscos, impactos e soluções'”,
promovido pela ABC no Instituto de Botânica de São Paulo, no fim de
novembro.
De acordo com os especialistas, há uma ameaça real à segurança
hídrica do Sudeste, em especial na Região Metropolitana de São Paulo e
no interior de Minas Gerais e do Estado do Rio de Janeiro. Isso diante
dos indícios “fortíssimos” de mudança climática – que devem trazer
eventos climáticos cada vez mais extremos – e do fato de que os sistemas
produtores de água não dispõem de capacidade para garantir as vazões
necessárias ao atendimento da demanda atual e projetada.
Eles afirmam que a saúde pública, as economias local e regional, a
produção de energia e de alimentos e a segurança das populações urbanas e
rurais já estão sendo afetadas pela crise.
Entre outros pontos, os cientistas recomendam uma drástica redução de
consumo de água para 2015 (na indústria, na agricultura e no
abastecimento público), investimentos imediatos em medidas de longo
prazo e projetos de saneamento básico e tratamento de esgoto. “Esse
problema crônico referente a saneamento básico e tratamento de esgoto
(...) está diretamente relacionado com a perda de qualidade de água de
nossos mananciais, o que aumenta o risco e a vulnerabilidade das
populações humanas e compromete ainda mais os efeitos da escassez.”
Eles defenderam também ações de divulgação e informação sobre as
medidas emergenciais, os planos de longo prazo e a gravidade da crise.
“Somente a transparência e a mobilização podem evitar uma maior
instabilidade social, que corre o risco de acontecer se o abastecimento
público continuar sendo drasticamente afetado, como indicam os dados
científicos e as informações existentes”, diz a carta.
Entre os signatários da carta estão pesquisadores como Carlos Nobre,
secretário de Políticas e Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped)
do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Eduardo Assad,
do Centro Nacional de Pesquisa Tecnológica em Informática para a
Agricultura (CNPTIA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa); José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Desastres Naturais (Cemaden); Carlos Tucci, da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS); e Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A íntegra da carta pode ser lida em http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=3758