quinta-feira, 18 de abril de 2013

Professor da UFRN destaca mudança climática com uma das principais causas da polêmica sobre o tomate

Por Juliana Holanda

O tomate ganhou ares de celebridade nas últimas semanas. Ao contrário do que costuma acontecer no Brasil, a fama repentina não surgiu após a participação em um programa de reality show nem como resultado de uma denúncia de corrupção.

O fruto é o mais novo vilão nacional. O crime: assaltar a carteira dos brasileiros, com a maior alta registrada nos últimos quinze anos. A pena: bombardeio da mídia, repúdio dos consumidores e até campanhas que promovem a abstinência do fruto.

Julgamento justo e imparcial: “não houve”, defende o professor do Curso de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Márcio Dias Pereira. “O tomate virou símbolo de uma assustadora possível volta dos tempos da inflação incontrolável”, analisa.

Com o aumento dos preços, a estabilidade da economia foi questionada. A responsabilidade acabou sobrando também para os produtores de tomate. “Eles têm sido vistos como mercenários, capitalistas, exploradores e os grandes vilões da história”, afirma Pereira. O professor acredita que a escolha do culpado foi errada. A situação está além de razões meramente econômicas. Segundo o especialista, o desequilíbrio foi criado devido a mudanças climáticas.

A produção agrícola está diretamente ligada às condições de clima e às adversidades ambientais. “Agricultores do mundo inteiro plantam, mas não sabem se chegarão a colher”, ressalta o professor da UFRN.

De acordo com Márcio Pereira, 2012 não foi um bom ano para a agricultura mundial e 2013 também trouxe impactos. “As forças da natureza têm demonstrado o quanto podem influenciar na produção e no preço de produtos agrícolas”, relata.

As principais regiões produtoras de tomate no Brasil foram atingidas por tempestades, enchentes, alterações bruscas das temperaturas e mudanças no regime de ventos, relembra o especialista. Essas adversidades provocaram a redução da área plantada de tomate.

E não foi só isso. A produtividade também foi afetada. Nos locais onde se conseguiu fazer o plantio e levar as lavouras até o final do ciclo, o número de frutos por área plantada foi menor do que o esperado. “É claro que a redução da produção também provoca uma diminuição da oferta, contribuindo para aumentar o preço final do produto”, analisa Pereira.

O professor explica o impacto da grande quantidade de chuva na produção agrícola. “O excesso de água faz com que as plantas se desenvolvam com mais dificuldade e os frutos amadurecem mais tardiamente”, descreve.

Sensíveis e vulneráveis, os frutos e o resto da planta ficam mais suscetíveis ao ataque de insetos e pragas, provocando a perda de grande parte da plantação. A consequência da instabilidade da lavoura foi que os agricultores precisaram usar mais agrotóxicos e medidas de controle. “O custo de produção aumentou, sendo necessário repassá-lo aos consumidores”, destaca o especialista.

O resultado da instabilidade climática é que o consumidor acaba sendo economicamente afetado. “Perceba que o tomate e os agricultores que o produzem não são os vilões de toda essa história, mas vítimas”, defende Márcio Pereira.

Nordeste

Já no Nordeste, o que causou a baixa produção de tomate foi a estiagem prolongada, que já é considerada a pior seca dos últimos 50 anos. “Sem água para irrigar as plantações, o tomate potiguar quase desapareceu dos mercados e os preços também dispararam nos municípios do Rio Grande do Norte”, explica.

A solução encontrada para atender a demanda da população foi importar uma quantidade maior do fruto de outros estados brasileiros do que o de costume. “Os consumidores pagam mais caro por um produto que vem de longe. Aqui no estado, os tomates atingiram preços assustadores”, avalia.

Fonte: Boletim da AGECOM - UFRN



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