Por Juliana Holanda
O tomate ganhou
ares de celebridade nas últimas semanas. Ao contrário do que costuma
acontecer no Brasil, a fama repentina não surgiu após a participação em
um programa de reality show nem como resultado de uma denúncia de
corrupção.
O fruto é o mais novo vilão nacional. O crime:
assaltar a carteira dos brasileiros, com a maior alta registrada nos
últimos quinze anos. A pena: bombardeio da mídia, repúdio dos
consumidores e até campanhas que promovem a abstinência do fruto.
Julgamento
justo e imparcial: “não houve”, defende o professor do Curso de
Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Márcio
Dias Pereira. “O tomate virou símbolo de uma assustadora possível volta
dos tempos da inflação incontrolável”, analisa.
Com o aumento dos
preços, a estabilidade da economia foi questionada. A responsabilidade
acabou sobrando também para os produtores de tomate. “Eles têm sido
vistos como mercenários, capitalistas, exploradores e os grandes vilões
da história”, afirma Pereira. O professor acredita que a escolha do
culpado foi errada. A situação está além de razões meramente econômicas.
Segundo o especialista, o desequilíbrio foi criado devido a mudanças
climáticas.
A produção agrícola está diretamente ligada às
condições de clima e às adversidades ambientais. “Agricultores do mundo
inteiro plantam, mas não sabem se chegarão a colher”, ressalta o
professor da UFRN.
De acordo com Márcio Pereira, 2012 não foi um
bom ano para a agricultura mundial e 2013 também trouxe impactos. “As
forças da natureza têm demonstrado o quanto podem influenciar na
produção e no preço de produtos agrícolas”, relata.
As principais
regiões produtoras de tomate no Brasil foram atingidas por tempestades,
enchentes, alterações bruscas das temperaturas e mudanças no regime de
ventos, relembra o especialista. Essas adversidades provocaram a redução
da área plantada de tomate.
E não foi só isso. A produtividade
também foi afetada. Nos locais onde se conseguiu fazer o plantio e levar
as lavouras até o final do ciclo, o número de frutos por área plantada
foi menor do que o esperado. “É claro que a redução da produção também
provoca uma diminuição da oferta, contribuindo para aumentar o preço
final do produto”, analisa Pereira.
O professor explica o impacto
da grande quantidade de chuva na produção agrícola. “O excesso de água
faz com que as plantas se desenvolvam com mais dificuldade e os frutos
amadurecem mais tardiamente”, descreve.
Sensíveis e vulneráveis,
os frutos e o resto da planta ficam mais suscetíveis ao ataque de
insetos e pragas, provocando a perda de grande parte da plantação. A
consequência da instabilidade da lavoura foi que os agricultores
precisaram usar mais agrotóxicos e medidas de controle. “O custo de
produção aumentou, sendo necessário repassá-lo aos consumidores”,
destaca o especialista.
O resultado da instabilidade climática é
que o consumidor acaba sendo economicamente afetado. “Perceba que o
tomate e os agricultores que o produzem não são os vilões de toda essa
história, mas vítimas”, defende Márcio Pereira.
Nordeste
Já no Nordeste, o que causou a baixa produção de tomate foi a
estiagem prolongada, que já é considerada a pior seca dos últimos 50
anos. “Sem água para irrigar as plantações, o tomate potiguar quase
desapareceu dos mercados e os preços também dispararam nos municípios do
Rio Grande do Norte”, explica.
A solução encontrada para atender
a demanda da população foi importar uma quantidade maior do fruto de
outros estados brasileiros do que o de costume. “Os consumidores pagam
mais caro por um produto que vem de longe. Aqui no estado, os tomates
atingiram preços assustadores”, avalia.
Fonte: Boletim da AGECOM - UFRN
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