sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Carlos Nobre ganha o Volvo Environment Prize

O comitê do Volvo Environment Prize anunciou nesta segunda-feira (24/10) que o brasileiro Carlos Nobre é o ganhador da edição de 2016 do prêmio, concedido a pessoas que fizeram notáveis descobertas científicas sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Carlos Nobre fez carreira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde atuou de 1983 a 2012 e, até hoje, mantém atividades acadêmicas.

Ao anunciar o laureado deste ano, o comitê do prêmio destacou o pioneirismo do brasileiro nos esforços para compreender e proteger a Amazônia, um dos ecossistemas mais importantes da Terra.

O prêmio será entregue no dia 30 de novembro durante cerimônia em Estocolmo, na Suécia.

Mais informações: http://www.environment-prize.com

Minicurso de mudanças climáticas - IFUSP

O Prof. Dr. Paulo Eduardo Artaxo Netto ministrará um minicurso de 4 créditos a partir do dia 14/11/2016. O especialista em física atmosférica abordará temas pertinentes às mudanças climáticas que afetam nosso planeta.

Os interessados devem procurar se matricular com antecedência; para tanto, apresentem-se à Secretaria de Pós-Graduação para preencher o formulário de matrícula em disciplina. Estudantes e profissionais de graduação e de outras instituições poderão se inscrever como alunos especiais - para tanto, é necessário que consultem a documentação exigida no link abaixo:
http://portal.if.usp.br/pg/pt-br/node/145

As aulas serão ministradas na Sala 202 da Ala Central (Edifício Principal).
As matrículas poderão ser feitas até o dia 14/11/2016.

Mais informações:
Serviço de Pós-Graduação | IFUSP
Rua do Matão, 1371
Sala 207 - Ala II - Edifício Principal
CEP 05508-090 - São Paulo - SP - Brasil
+55 11 3091-6901
cpgaluno@if.usp.br

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

WWF Brasil: As Mudanças Climáticas

O que é Aquecimento Global?

Aquecimento global é o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra que pode ser consequência de causas naturais e atividades humanas. Isto se deve principalmente ao aumento das emissões de gases na atmosfera que causam o efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2).

O que é Efeito Estufa?

O Efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a superfície da terra, essa camada composta principalmente por gás carbônico (CO²), metano (CH4), N²O (óxido nitroso) e vapor d água, é um fenômeno natural fundamental para manutenção da vida na Terra, pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio, inviabilizando a sobrevivência de diversas espécies.

Normalmente parte da radiação solar que chega ao nosso planeta é refletida e retorna diretamente para o espaço, outra parte é absorvida pelos oceanos e pela superfície terrestre e uma parte é retida por esta camada de gases que causa o chamado efeito estufa. O problema não é o fenômeno natural, mas o agravamento dele. Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa (GEEs), esta camada tem ficado cada vez mais espessa, retendo mais calor na Terra, aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global.

Quais as principais consequências do aquecimento global?


São várias as consequências do aquecimento global e algumas delas já podem ser sentidas em diferentes partes do planeta. Os cientistas já observam que o aumento da temperatura média do planeta tem elevado o nível do mar devido ao derretimento das calotas polares, podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litorâneas densamente povoadas. E há previsão de uma frequência maior de eventos extremos climáticos (tempestades tropicais, inundações, ondas de calor, seca, nevascas, furacões, tornados e tsunamis) com graves consequências para populações humanas e ecossistemas naturais, podendo ocasionar a extinção de espécies de animais e de plantas.

Quais as causas das mudanças climáticas e do aquecimento global?

As mudanças climáticas podem ter causas naturais como alterações na radiação solar e dos movimentos orbitais da Terra ou podem ser consequência das atividades humanas.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas, responsável por produzir informações científicas, afirma que há 90% de certeza que o aumento de temperatura na Terra está sendo causado pela ação do homem.

A partir da Revolução Industrial o homem passou a emitir quantidades significativas de gases de efeito estufa (GEE), em especial o dióxido de carbono. Neste período, a concentração original de 280 ppm4 deste gás cresceu até os atuais 400 ppm5 , intensificando significativamente o efeito estufa. Assim, as atividades humanas passaram a ter influência importante nas mudanças climáticas.

Quais as principais atividades humanas que causam o aquecimento global?

Entre as principais atividades humanas que causam o aquecimento global e consequentemente as mudanças climáticas, a queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo, carvão mineral e gás natural) para geração de energia, atividades industriais e transportes; conversão do uso do solo; agropecuária; descarte de resíduos sólidos (lixo) e desmatamento. Todas estas atividades emitem grande quantidade de CO² e de gases formadores do efeito estufa.

No Brasil, as mudanças do uso do solo e o desmatamento são responsáveis pela maior parte das nossas emissões e faz o país ser um dos líderes mundiais em emissões de gases de efeito estufa. Isto porque as áreas de florestas e os ecossistemas naturais são grandes reservatórios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO². Mas quando acontece um incêndio florestal ou uma área é desmatada, esse carbono é liberado para a atmosfera, contribuindo para o efeito estufa e o aquecimento global. Mas as emissões de GEE por outras atividades como agropecuária e geração de energia vem aumentando consideravelmente ao longo dos anos.

Quais são os principais gases de efeito estufa (GEE)?

Os principais gases de efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), o metano e o óxido nitroso. O CO2 é o gás que tem maior contribuição para o aquecimento global, pois representa mais de 70% das emissões de GEE e o seu tempo de permanência é de no mínimo cem anos, resultando em impactos no clima ao longo de séculos. A quantidade de metano (CH4) emitida para a atmosfera é bem menor, mas seu potencial de aquecimento é vinte vezes superior ao do CO2. No caso do óxido nitroso e dos clorofluorcarbonos (CFCs), suas concentrações na atmosfera são menores, mas o seu poder de reter calor é de 310 a 7.100 vezes maior do que do que o CO2.

Quais são os países que mais emitem gases de efeito estufa?

Historicamente, por conta do desenvolvimento industrial os países desenvolvidos tem sido responsáveis pela maior parte das emissões de GEE, mas os países em desenvolvimento vêm aumentando consideravelmente suas emissões. Atualmente, a China ocupa o primeiro lugar do ranking, seguido por Estados Unidos, União Europeia e pelo Brasil.

E o que podemos fazer para combater o aquecimento global?

Existem várias maneiras de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa e os efeitos no aquecimento global. Diminuir o desmatamento, investir no reflorestamento e na conservação de áreas naturais, incentivar o uso de energias renováveis não convencionais (solar, eólica, biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas), preferir utilizar biocombustíveis (etanol, biodiesel) a combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel), investir na redução do consumo de energia e na eficiência energética, reduzir, reaproveitar e reciclar materiais, investir em tecnologias de baixo carbono, melhorar o transporte público com baixa emissão de GEE, são algumas das possibilidades. E estas medidas podem ser estabelecidas através de políticas nacionais e internacionais de clima.

O que faz a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima?

A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês) é uma base de cooperação internacional em que os seus países membros buscam estabelecer políticas para reduzir e estabilizar as emissões de gases de efeito estufa em um nível na qual as atividades humanas não interfiram seriamente nos processos climáticos.

A primeira reunião aconteceu em 1992 durante a Eco 92, Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, o texto da convenção foi assinado e ratificado por 175 países, reconhecendo a necessidade de um esforço global para o enfrentamento das questões climáticas. Com a entrada em vigor da Convenção do Clima, os representantes dos diferentes países passaram a se reunir anualmente para discutir a sua implementação, estas reuniões são chamadas de Conferências das Partes (COPs).

O que é Protocolo de Quioto?


O Protocolo de Quioto assinado é um tratado internacional que estipulou as metas de reduções obrigatórias dos principais gases de efeito estufa para o período de 2008 a 2012. Apesar da resistência por parte de alguns países desenvolvidos foi acordado o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada. Assim, os países desenvolvidos e industrializados (pertencentes ao Anexo I) por serem responsáveis históricos das emissões e por terem mais condições econômicas para arcar com os custos seriam os primeiros a assumir as metas de redução até 2012.

Em 2012, durante a COP 18 em Doha, quando estava previsto a finalização do Protocolo de Quioto, foi observado o não atingimento das metas por diversos países e o protocolo foi prorrogado até 2020. Em 2020, quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade, espera-se que os países busquem um novo acordo com metas para todos os países, incluindo os países em desenvolvimento. Essa será a principal discussão da COP de 2015, em Paris.

O que é MDL?

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é um instrumento que integra o Protocolo de Quioto e permite que os países desenvolvidos pertencentes ao Anexo I invistam em projetos para redução de emissões em países em desenvolvimento. As emissões reduzidas são contabilizadas e geram créditos de carbono que podem ser comercializadas no comércio de emissões. Este instrumento de mercado possibilita que os países que tenham obrigatoriedade de reduzir suas emissões possam comprar créditos de carbono de um país que já tenha atingido a sua meta, e, portanto, tem créditos excedentes para vender.

O que é REDD?

REDD é uma sigla que significa Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, este mecanismo foi criado para incentivar que as florestas sejam preservadas para evitar o desmatamento e consequentemente as emissões de gases de efeito estufa. Este mecanismo surgiu em 2013, durante a Conferência das Partes em Bali na Indonésia, posteriormente incluíram no seu conceito atividades de conservação, manejo sustentável das florestas em países em desenvolvimento, denominado REED+ (REED plus, em inglês). Embora a Política Internacional de REDD ainda esteja em construção, já existe uma série de iniciativas no mundo que estão aplicando este mecanismo. No Brasil o WWF em parceria com o governo do Acre vem apoiando a construção do REDD no âmbito do programa de pagamentos por serviços ambientais. O REDD é uma importante ferramenta para os países com florestas nativas para contribuir para a conservação, redução do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa.

Fonte: WWF Brasil

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Estudo desvenda como são produzidas as partículas que alimentam as nuvens da Amazônia

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – Um estudo divulgado segunda-feira (24/10) na revista Nature solucionou um mistério que há mais de uma década intrigava os cientistas: a origem dos aerossóis atmosféricos que alimentam as nuvens da região amazônica em condições livres de poluição.

Essas partículas microscópicas suspensas no ar desempenham um papel fundamental para o clima, pois dão origem aos chamados núcleos de condensação de nuvens – partículas sobre as quais o vapor d’água presente na atmosfera se condensa para formar as gotas de nuvens e a chuva, explicaram os autores.

De acordo com novos resultados da pesquisa, conduzida com apoio da FAPESP no âmbito da campanha científica Green Ocean Amazon Experiment (GoAmazon), as partículas precursoras dos núcleos de condensação de nuvens são formadas na alta atmosfera e transportadas para perto da superfície pelas nuvens e pela chuva.

“Há pelo menos 15 anos temos tentado medir no solo a formação de novas partículas de aerossóis na Amazônia e o resultado era sempre zero. As novas partículas nanométricas simplesmente não apareciam na Amazônia. As medições eram feitas em solo ou com aviões voando até no máximo 3 mil metros de altura. Mas a resposta, na verdade, estava ainda muito mais no alto”, contou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e coautor do artigo.
Segundo Artaxo, que coordena o Projeto Temático “GoAmazon: interação da pluma urbana de Manaus com emissões biogênicas da Floresta Amazônica”, a floresta naturalmente emite gases conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCs, na sigla em inglês) – entre eles terpenos e isoprenos –, que são carregados pela convecção nas nuvens para a alta atmosfera, podendo chegar a 15 mil metros de altitude, onde a temperatura gira em torno de 55°C negativos.

“Com o frio, os gases voláteis se condensam e formam partículas inicialmente muito pequenas – entre 1 e 5 nanômetros. Essas nanopartículas adsorvem gases e se chocam umas com as outras, rapidamente coagulam e crescem até alcançar um tamanho em que podem atuar como núcleo de condensação de nuvens – em geral acima de 50 a 70 nanômetros”, explicou Artaxo.

Em altitudes elevadas, acrescentou o pesquisador, o processo de coagulação das partículas é facilitado pela baixa pressão atmosférica, baixas temperaturas e pelo grande número de partículas presentes.
“Até que, em uma determinada hora, uma dessas gigantescas nuvens convectivas gera uma forte corrente de ar com ventos descendentes e, ao precipitar, traz essas partículas para perto da superfície”, continuou Artaxo.

Achado surpreendente

Parte das medições apresentadas no artigo foi feita em março de 2014 – período de chuva na Amazônia – por um avião de pesquisa capaz de voar até 6 mil metros de altura. A aeronave, conhecida como Gulfstream-1, pertence ao Pacific Northwest National Laboratory (PNNL), dos Estados Unidos.

Outro conjunto de dados foi obtido entre março e maio de 2014 no laboratório operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) – chamado Torre Alta de Observação da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), que tem 320 metros de altura e está situado na Reserva Biológica de Uatumã, uma área de floresta distante 160 quilômetros a nordeste de Manaus, onde a poluição urbana dificilmente chega.

Medições de aerossóis complementares foram feitas em um conjunto de torres situado cerca de 55 quilômetros ao norte de Manaus, conhecido como ZF2. E também na cidade de Manacapuru, a cerca de 100 quilômetros a oeste de Manaus, onde está instalada a infraestrutura do Atmospheric Radiation Measurement (ARM) Facility – um conjunto móvel de equipamentos terrestres e aéreos desenvolvido para estudos climáticos, pertencente ao Departamento de Energia dos Estados Unidos.
“Para nossa surpresa, observamos que a concentração de material particulado aumentava com a altitude – quando o esperado seria uma quantidade maior próximo da superfície. Encontramos uma quantidade muito grande de aerossóis nesse limite de voo de 6 mil metros do Gulfstream-1”, contou Luiz Augusto Toledo Machado, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coautor do artigo.

A observação inicial se confirmou quando, no âmbito do projeto Acridicon-Chuva, coordenado por Machado e apoiado pela FAPESP, foram feitas novas medições com uma aeronave de pesquisa alemã capaz de voar até 16 mil metros de altitude. O avião denominado Halo (High Altitude and Long Range Research Aircraft) é administrado por um consórcio de pesquisa que inclui o Centro Alemão de Aeronáutica (DLR), o Instituto Max Planck (MPI) e a Associação de Pesquisa da Alemanha (DFG).

“Notamos que, em regiões poluídas, havia uma quantidade extremamente grande de material particulado próximo da superfície, o que não acontecia nas regiões livres de poluição. Mas, em altitudes elevadas, encontrávamos grande concentração de partículas independentemente do grau de poluição. Agora, este trabalho mostra que a chuva traz essas nanopartículas para perto da superfície, onde formam novas populações de material particulado que atuam como núcleo de condensação de nuvens”, disse Machado.

Como pontuou o pesquisador do Inpe, já se sabia que a chuva limpa a atmosfera, mas não se conhecia o mecanismo pelo qual os aerossóis eram repostos. “O interessante foi ter apreendido que, ao mesmo tempo que a chuva remove os aerossóis, ela traz, em suas correntes descendentes, os embriões [as nanopartículas] que, após crescerem, vão recompor a concentração de aerossóis.”

Segundo Artaxo, a observação foi surpreendente porque quando se ultrapassa a camada limite planetária – altitudes superiores a 2,5 mil metros – ocorre uma inversão de temperatura que costuma inibir a movimentação vertical de partículas. “Mas não levávamos em conta o papel das nuvens convectivas como transportadoras dos gases emitidos pela floresta”, disse.

Os estudos feitos no âmbito do experimento GoAmazon, acrescentou o pesquisador, estão demonstrando que os VOCs oriundos das plantas fazem parte de um mecanismo fundamental para a produção de aerossóis em áreas continentais.

“Os VOCs emitidos pela floresta e as nuvens fazem uma dinâmica muito peculiar e produzem enormes quantidades de partículas em altas altitudes, onde se acreditava que elas não existiriam. É a biologia da floresta atuando junto com as nuvens para manter o ecossistema amazônico em funcionamento”, ressalta Artaxo.

Esses gases, segundo o pesquisador, são jogados para a alta atmosfera, onde a velocidade do vento é muito grande, e são redistribuídos pelo planeta de forma muito eficiente. No caso da Amazônia, parte é transportada para os Andes, parte para o sul do Brasil e parte afeta a própria região da floresta tropical. “Estamos atualmente realizando trabalhos de modelagem para precisar as regiões afetadas pelas emissões de VOCs da Amazônia e transportadas pela circulação atmosférica”, contou o professor da USP.

Como era até agora desconhecido, esse mecanismo de produção de aerossóis não está contemplado em nenhum modelo climático. “É um conhecimento que terá de ser incluído, pois ajudará a tornar as simulações de chuva mais precisas”, afirmou Machado.

O pesquisador do Inpe ressaltou ainda que a descoberta só foi possível graças aos aviões de pesquisa que estiveram em Manaus por meio das parcerias firmadas no âmbito do experimento GoAmazon, uma campanha internacional do Departamento de Energia dos Estados Unidos conduzida em parceria. “O Brasil ainda não tem uma aeronave laboratório desse porte, o que seria fundamental para o avanço de pesquisas atmosféricas”, disse.

Além do Acridicon-Chuva, coordenado por Machado, e do Projeto Temático coordenado por Artaxo, conta ainda com apoio da FAPESP o projeto “Pesquisa colaborativa Brasil-EUA: modificações causadas pela poluição antrópica na química da atmosfera e na microfísica de partículas da floresta tropical durante as campanhas intensivas do GoAmazon”, coordenado por Henrique de Melo Jorge Barbosa, pesquisador do IF-USP.

O artigo Amazon boundary layer aerosol concentration sustained by vertical transport during rainfall  pode ser lido em http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature19819.html.

domingo, 23 de outubro de 2016

FAO: Mudanças climáticas terão forte efeito sobre chuvas no Brasil e na América Latina.

O clima e a agricultura na região da América Latina e do Caribe não serão mais os mesmos com os efeitos das mudanças climáticas: os prognósticos indicam que no fim do século 21 haverá uma grande variação no nível de precipitações na América do Sul, com mudanças heterogêneas — enquanto no Nordeste brasileiro estima-se que haverá uma redução de 22% das chuvas, em áreas do sul-oriente da América do Sul se espera um aumento de 25%.


Mudanças climáticas devem provocar importantes alterações no padrão da chuva em países latino-americanos, disse a FAO. Foto: EBC
Mudanças climáticas devem provocar importantes alterações no padrão da chuva em países latino-americanos, disse a FAO. Foto: EBC

A conclusão consta nos relatórios “O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação (SOFA, na sigla em inglês)” e “Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar e Nutricional da América Latina e Caribe”, publicados na segunda-feira (17) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Segundo a FAO, as alterações no padrão das chuvas terá importantes efeitos sobre a agricultura latino-americana e caribenha, e será cada vez mais difícil realizar colheitas, criar animais, gerir florestas e pescar nos mesmos locais e da mesma forma que anteriormente.

“Dado que a mudança climática altera os padrões das chuvas e a disponibilidade de água, a capacidade para enfrentar a escassez ou os excedentes de água será fundamental nos esforços para melhorar a produtividade de forma sustentável”, disse o relatório.

O relatório destacou o risco de perda de superfície das florestas da região, que se transformarão em savanas, destacando que a Amazônia enfrentará risco de incêndios frequentes. Na América Central, as mudanças climáticas colocam 40% das espécies de manguezais em ameaça de extinção.

Conversão de florestas

O documento da agência da ONU alertou também para a crescente conversão de florestas latino-americanas e caribenhas em terras para a agricultura ou pecuária, o que representa a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa na região.
A redução do desmatamento é a principal frente de combate às mudanças climáticas na América Latina, enquanto a pecuária e a agricultura são os setores que mais degradam as florestas da região, contribuindo para a emissão de gases do efeito estuda, segundo a organização.
Segundo o relatório, as três principais fontes de emissões de gases de efeito estufa da agricultura em 2014 na América Latina e no Caribe foram a fermentação entérica (58%) — o gás produzido nos sistemas digestivos dos ruminantes —, o estrume deixado nas pastagens (23%) e os fertilizantes sintéticos (6%).
Por esse motivo, a FAO faz um chamado global para que os governos implementem transformações rápidas nos sistemas alimentares e agrícolas para lidar com as mudanças climáticas. A agência da ONU também recomendou avançar em estabelecer compromissos nacionais de erradicação da fome e da pobreza.
De acordo com a FAO, essas transformações incluem práticas como o uso eficiente dos fertilizantes, a promoção de dietas que não estejam baseadas em produtos de origem animal, pois sua produção exerce uma forte pressão sobre os recursos naturais, a redução das perdas e desperdícios de alimentos e o apoio aos pequenos agricultores.

Efeitos na agricultura

O relatório apontou que as mudanças climáticas vão afetar os cultivos e a pecuária da região de diferentes maneiras. Também se verificará maiores secas dos solos e aumento da temperatura vai reduzir as produtividades nas regiões tropicais e subtropicais.
Além disso, se espera uma maior salinização e desertificação em áreas áridas do Chile e do Brasil, enquanto a agricultura de sequeiro em áreas semiáridas vai enfrentar perdas de colheitas.
A FAO também faz o prognóstico de que as mudanças climáticas vão provocar a diminuição da produção primária no Pacífico tropical e algumas espécies de peixes vão se trasladar em direção ao sul. A maior frequência das tempestades, furacões e ciclones vão prejudicar a aquicultura e a pesca do Caribe, e as mudanças na temperatura podem alterar a fisiologia das espécies de peixes de água doce e gerar o afundamento dos sistemas dos arrecifes de corais.

Ameaças à luta contra a fome

Um relatório complementar ao SOFA, denominado “Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar e Nutricional da América Latina e Caribe”, publicado na segunda-feira (17) pelo Escritório Regional para América Latina e Caribe da FAO, apontou que as mudanças climáticas podem afetar as quatro dimensões da segurança alimentar e ameaçar as grandes conquistas que a região vem alcançando na luta contra a fome e a pobreza.
As mudanças climáticas podem afetar a estabilidade da segurança alimentar devido a uma maior incerteza em relação ao desempenho produtivo das atividades agrícolas, a renda das famílias e os preços dos alimentos.
No caso da disponibilidade, as mudanças climáticas podem afetar diretamente a produção alimentar, com a possível diminuição da quantidade física e variedade de alimentos disponíveis. Choques climáticos em grandes áreas produtoras poderiam ter severas implicações no comércio, chegando a afetar a oferta internacional de alimentos.
Além disso, as mudanças climáticas podem incidir na dimensão de acesso da segurança alimentar e nutricional, com variações bruscas da renda das famílias dependentes do setor agrícola ou no caso de uma redução da demanda de mão de obra assalariada para as tarefas agrícolas, repercutindo em sua capacidade de comprar alimentos.
As alterações no clima podem ainda incidir na dimensão de utilização, gerando mudanças importantes nas dietas da população, por uma oferta e ingestão alimentar pouco variada e afastada de padrões alimentares saudáveis, o que levaria a consequências negativas na nutrição.

Fonte: FAO-ONU

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Study finds Brazil isn’t counting all deforestation in official estimates

/

Brazil drew widespread praise for drastically lowering Amazon deforestation over the past decade and half. But as forest destruction in the country is on the rise once again, new research finds that Brazil’s official estimates are missing large swaths of deforestation.


  • A new study published in the journal Conservation Letters finds that, between 2008 and 2012, close to 9,000 square kilometers (about 3,475 square miles) of the Brazilian Amazon were cleared without being detected by the government’s official monitoring system.
  • Brazil’s Monitoring Deforestation in the Brazilian Amazon by Satellite Project (known as PRODES) has played a key role in Brazil’s recent efforts to rein in deforestation.
  • But when researchers with Brown University compared data from PRODES with two independent satellite measures of forest loss — from the Global Forest Change project and the Fire Information for Resource Management Systems — they found an area of deforestation roughly the size of Puerto Rico was not included in the PRODES monitoring.

9083164278_7016abc527_k
An aerial shot shows the contrast between the forest and agricultural landscapes near Rio Branco, Acre, Brazil. Photo by Kate Evans for Center for International Forestry Research (CIFOR).

Read in full @ Mongabay

Related post "Give indigenous people land rights or fail on deforestation pledges, governors told
by Chris Arsenault" @ Thompson Reuters

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Pesquisadores monitoram emissões de gases do efeito estufa na Caatinga

Diego Freire  |  Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) monitoraram duas regiões da Caatinga, uma de mata nativa e outra de pasto, e concluíram que as mudanças do uso do solo na área de estudo não apresentaram impacto significativo nas emissões de gases do efeito estufa no bioma.
Verificaram também que as emissões na Caatinga são relativamente baixas quando comparadas com as de outros biomas. Entretanto, por ser uma região densamente povoada e, portanto, sujeita a grandes alterações humanas, é difícil determinar, segundo os pesquisadores, as tendências de emissões.
A pesquisa "Impactos de mudanças climáticas sobre a cobertura e uso da terra em Pernambuco: geração e disponibilização de informações para o subsídio a políticas públicas", coordenada por Jean Pierre Henry Balbaud Ometto, foi realizada com o apoio da FAPESP no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.
“Trata-se de estudos de medição das emissões de gases do efeito estufa a partir do solo nessa região. O objetivo foi investigar se o uso da terra e as consequentes mudanças na cobertura do solo alteram os ciclos biogeoquímicos e as emissões de gases do efeito estufa na Caatinga, que abrange uma área de 844.453 km² do território brasileiro: um bioma de grande biodiversidade endêmica e com outras características particulares que o fazem exclusivamente brasileiro”, disse Ometto.
As medições foram realizadas em 2013 e 2014 no município pernambucano de São João. De acordo com os resultados do monitoramento, as emissões de óxido nitroso (N2O) e de dióxido de carbono (CO2) foram significativamente superiores às de metano (CH4) na Caatinga durante o período estudado, mas não houve diferenças consideráveis entre as medições na área de vegetação nativa e naquelas sob cobertura de pasto. Por outro lado, as condições de temperatura e de umidade do solo impactaram significativamente as alterações das emissões de gases.
As emissões foram significativamente menores durante as estações secas. Isso porque a matéria orgânica, a disponibilidade de nutrientes e a atividade microbiana são minimizadas em condições de solo muito seco. Já a ocorrência de chuva estimula atividades microbiológicas e o aumento das emissões de CO2 e N2O.
“A exposição direta da superfície do solo à radiação solar altera sua dinâmica microbiológica em virtude das altas temperaturas, o que influencia as emissões de gases do efeito estufa. A umidade do solo também é essencial para a emissão desses gases, especialmente do nitrogênio, pois a atividade microbiana no solo e a decomposição da matéria orgânica dependem da disponibilidade hídrica”, disse Eráclito Sousa Neto, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe.
Mas ele alerta para outras variáveis que podem impactar as emissões. “As variáveis ambientais de temperatura e umidade do solo são importantes reguladores das emissões de gases; no entanto, a variabilidade elevada do clima e das precipitações, típica da Caatinga, associada a alterações antrópicas dificulta determinar as tendências de emissões para o bioma”, disse Sousa Neto.
Segundo os pesquisadores, os resultados do monitoramento revelaram que as emissões de gases do efeito estufa na região estudada são muito baixas, porque se trata de um sistema de dinâmica relativamente lenta, mas nem por isso são menos importantes.
“Quando se comparam as emissões da Caatinga com as de outros biomas, elas são relativamente baixas por conta de fatores como a dinâmica de decomposição do solo, a disponibilidade hídrica e uma cobertura vegetal menos pujante em termos de quantidade de carbono. No entanto, áreas áridas e semiáridas estão representadas em todos os continentes, cobrindo uma região importante do planeta e, geralmente, largamente ocupadas por atividades humanas, como o pastoreio e a agricultura de pequena escala, com processos antrópicos históricos e intensos”, disse Ometto. “A Caatinga brasileira integra esse cenário, que não deve ser ignorado.”
Dessa forma, as emissões relativas à mudança de uso do solo ou à dinâmica da decomposição da matéria orgânica podem não ser significativas em termos comparativos, mas a cobertura global da área associada à ocupação humana evidenciam sua importância.
“A modelagem atmosférica global indica, com certa consistência, que o Nordeste brasileiro deve enfrentar ainda mais períodos de seca intensa. Estamos falando de um número muito grande de pessoas que dependem da atividade agrícola e da pecuária de pequena escala, com uma perspectiva de sofrer impactos de secas mais frequentes e prolongadas, o que nos exige avanços científicos sobre as dinâmicas do funcionamento dos ecossistemas, dos sistemas de produção e da integração de diversos processos ambientais pelos ciclos bioquímicos. A Caatinga, em especial, passa por longos períodos naturais de seca que causam perdas nas colheitas e na produtividade da pecuária, tendo um impacto grave sobre a população”, disse Ometto.
Terras áridas e semiáridas cobrem aproximadamente 41% da superfície da Terra.
Os resultados do monitoramento do bioma pelos pesquisadores do Inpe estão no artigo Land cover changes and greenhouse gas emissions in two different soil covers in the Brazilian Caatinga, publicado pela revista Science of the Total Environment e disponível em dx.doi.org/10.1016/j.scitotenv.2016.07.095. Assinam o artigo Kelly Ribeiro, Eráclito Rodrigues de Sousa Neto, João Andrade de Carvalho Junior, José Romualdo de Sousa Lima, Rômulo Simões Cezar Menezes, Paulo José Duarte Neto, Glauce da Silva Guerra e Jean Pierre Henry Baulbaud Ometto.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Uso de energia renovável poderá ser obrigatório em construções com recursos públicos

De acordo com a proposta, serão obrigados a utilizar energia com essas características: as edificações de prédios públicos quando submetidos a reforma; os imóveis alugados pelo poder público; os imóveis construídos para abrigar órgãos públicos; e os imóveis residenciais novos do programa Minha Casa, Minha Vida

O Legislativo pode aprovar uma lei tornando obrigatória a utilização, nas residências e instalações financiadas com dinheiro público, de equipamentos de geração de energia elétrica renovável. A ideia é do senador Telmário Mota (PDT-RR), para quem o poder público deve dar o exemplo na mitigação dos impactos ambientais causados pela atividade humana.

O projeto (PLS 253/2016) considera resultante de fonte renovável a energia elétrica gerada a partir de pequenas centrais hidroelétricas ou por fonte eólica, solar, maremotriz e biomassa. De acordo com a proposta, serão obrigados a utilizar energia com essas características: as edificações de prédios públicos quando submetidos a reforma; os imóveis alugados pelo poder público; os imóveis construídos para abrigar órgãos públicos; e os imóveis residenciais novos do programa Minha Casa, Minha Vida.

Em defesa do projeto, Telmário Mota diz que os parlamentares devem procurar mecanismos de incentivo aos investimentos em fontes renováveis de energia. Ele lembra que parte relevante do consumo energético ocorre nos grandes centros urbanos. E acrescenta:

“Com a obrigatoriedade de instalação de equipamentos de geração de energia elétrica diretamente no centro de carga, como é o caso do projeto que submeto, procura-se não somente aumentar a oferta de energia, mas também evitar as perdas que ocorrem na transmissão de energia elétrica entre as diferentes regiões do Brasil. Ou seja, tem efeito duplamente positivo!”.

O projeto está na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) aguardando a indicação de relator. A proposta será votada em decisão terminativa na comissão. Se aprovada e não houver recurso para votação do texto pelo Plenário,  seguirá para a Câmara dos Deputados.
Agência Senado

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Pesquisa inédita mapeia mudanças do clima no Paraná

Reginaldo Alves (Projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima / Fiocruz Minas)

O Paraná poderá apresentar dias mais secos e mais quentes nos próximos 25 anos. De acordo com as projeções feitas, a região nordeste do estado poderá ter um aumento de até 5,6°C na temperatura e uma diminuição de 18% no volume de chuvas. Os dados são de um estudo inédito, que avaliou a vulnerabilidade de 399 municípios paranaenses à mudança do clima. A pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) faz parte do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, feito em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.

Clique para ampliar

A apresentação dos resultados sobre a pesquisa ocorreu durante o Seminário Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, realizado (10/11) em Curitiba, no Paraná. Para o coordenador do projeto, Ulisses Confalonieri, a pesquisa desenvolvida será muito útil para a administração estadual. “Por meio do estudo e da criação de uma ferramenta, um software, gestores poderão identificar quais cidades estarão mais e menos vulnerável às alterações do clima e as mais aptas a se recuperarem de possíveis impactos climáticos”, avalia o pesquisador.
Mais calor e menos chuvas
O estudo feito sobre os municípios paranaenses aponta que as populações que vivem no norte do estado, possivelmente terão que lidar com o aumento da temperatura, que poderá subir até 5°C nos próximos 25 anos. Em municípios como Jardim Olinda, São João do Caiuá e Alvorada do Sul essa elevação pode chegar a 5,6°C em relação ao período atual.
O norte do Paraná também poderá ser a região mais impactada pela diminuição no volume de chuvas. Os destaques são os municípios de Alvorada do Sul com uma redução de 17% e Porecatu com uma queda de 18% para os períodos de estiagem. A situação é diferente nas regiões sul e sudeste do estado, onde poderá ocorrer um aumento na precipitação. Por exemplo, a cidade de General Carneiro poderá ter 20% de acréscimo na pluviosidade e Palmas poderá ter 18%.

Clique para ampliar

Segundo as projeções feitas, a região sudeste do estado poderá ser a mais afetada em relação ao número de dias secos consecutivos no ano, índice chamado de CDD. As cidades de Pontal do Paraná e Matinhos, por exemplo, apresentaram os CDDs mais elevados, com um aumento de dias seguidos sem chuva de até 43% e 40%, respectivamente.

Clique para ampliar

Mudança do clima em Curitiba
Na capital paranaense e região metropolitana, a temperatura poderá aumentar mais de 3°C no período de 2041 a 2070. Essa elevação também ocorrerá no número de dias seguidos sem chuva, que pode chegar até 30%. No entanto, a precipitação se mantém quase a mesma ao ser comparada com a atualidade, apresentando um incremento de até 2%. Esse cenário ocorre por causa da concentração do volume de chuvas em espaços curtos de tempo, possibilitando o aumento de eventos extremos de origem meteorológica e doenças associadas ao clima.
Projeto e metodologia
O Paraná foi o estado escolhido para representar o sul do país no projeto, que também avalia a vulnerabilidade dos municípios à mudança do clima em outros cinco estados: Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Pernambuco.
Para a realização do estudo são consideradas informações sobre a realidade social, econômica, ambiental e de saúde atual dos municípios do estado, que são associadas a dados de previsões para o futuro do clima. A proposta não é avaliar de forma comparativa somente as cidades mais vulneráveis às possíveis alterações climáticas, mas também identificar quais são estas vulnerabilidades. A partir da combinação e análise dessas informações, é possível calcular o Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV).
“A vulnerabilidade é calculada a partir de três elementos – exposição, sensibilidade e capacidade adaptativa. O primeiro diz respeito ao histórico de eventos climáticos extremos dos municípios, como deslizamentos, secas, granizos e vendavais com a preservação da vegetação nativa. O segundo indica a intensidade com a qual as cidades são suscetíveis aos impactos do clima e o terceiro se relaciona com a capacidade institucional e organização dos municípios em lidar com as mudanças do clima”, enfatiza Confalonieri.
As previsões indicaram que os municípios do norte do estado foram os mais expostos à mudança do clima, devido o clima mais seco nesta região e a destruição da vegetação nativa.  Segundo os dados apontados no estudo, Querência do Norte foi a cidade mais vulnerável a este índice. Tamarana foi considerado o município mais sensível, em virtude do perfil socioeconômico da população e saneamento inadequado.
Em relação à capacidade adaptativa, Umuarama, Curitiba e Londrina foram considerados os mais adaptados para lidar com as alterações do clima, devido à existência de infraestrutura de saúde, como leitos hospitalares, plano de contingência de desastres e maior atuação da Defesa Civil. Cerro Azul seria a cidade menos adaptada.
Consequências para o estado
As previsões feitas na pesquisa indicam impactos diretos nos municípios paranaenses. Dentre eles, está a proliferação de vetores, como o Aedes Aegypti e, consequentemente, o aumento no número de doenças por causa da elevação da temperatura.
Outra consequência apontada é a possível diminuição da biodiversidade, em virtude das alterações no ciclo reprodutivo de plantas e animais. Também é importante destacar os efeitos da mudança do clima na agricultura, principalmente nas áreas que, no futuro, estarão mais quentes e com menos chuva.

sábado, 8 de outubro de 2016

Banco Mundial: América Latina tem água em abundância, mas falta saneamento

A América Latina é a região com mais água doce no planeta: Brasil, Colômbia e Peru estão entre os dez países com a maior quantidade de recursos hídricos

A América Latina é a região com mais água doce no planeta: Brasil, Colômbia e Peru estão entre os dez países com a maior quantidade de recursos hídricos. Apesar disso, 106 milhões de latino-americanos ainda não dispõem de banheiro em casa e 34 milhões não têm acesso constante a água potável, segundo estudo do Banco Mundial.
A instituição apontou ainda que 20% da população latino-americana ainda não tem saneamento melhorado, que, de forma higiênica, separa os dejetos humanos do meio ambiente. Além disso, mais de 70% das águas são despejadas sem tratamento nos rios e oceanos da região.
As estatísticas dão uma ideia do desafio que será alcançar o sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que busca, até 2030, proporcionar acesso universal e equitativo à água potável, a um preço acessível a todos.
Apesar de o acesso à água potável ter melhorado no mundo — passou de 76% da população global para 91% atualmente — ainda restam ao menos 1,8 bilhão de pessoas utilizando fontes de água contaminada com matéria fecal.
O Objetivo do Desenvolvimento Sustentável número 6 também tem como meta pôr fim à defecação ao ar livre e oferecer saneamento a todas as pessoas. Em todo o mundo, 2,4 bilhões de pessoas carecem desse serviço.
O estudo “Indicadores de Desenvolvimento 2016”, do Banco Mundial, calcula que a economia global perde cerca de 250 bilhões de dólares por ano pela falta de serviços adequados de água e saneamento. Outro desafio citado é a disponibilidade de recursos hídricos no mundo, que caiu pela metade nos últimos 50 anos, enquanto a demanda por água só aumentou.
Enquanto a América Latina ainda tem água em abundância, o Oriente Médio e Norte da África e o Sul da Ásia são as regiões mais carentes desse recurso. Nelas, há menos de 1.700 metros cúbicos disponíveis por pessoa ao ano, o que as coloca em estado de estresse hídrico.

ONU Brasil - via JC online.

Aumento de desmatamento na Amazônia é sinal amarelo para o Brasil

Para diretor-executivo do IPAM, País assumiu um compromisso internacional na Conferência do Clima, mas os números indicam que estamos indo na direção contrária do que é necessário para cumprir acordo

O aumento do desmatamento na Amazônia, divulgado na semana passada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), acende um sinal amarelo na sociedade: a meta climática assumida pelo país, para cortar emissões de gases estufa, está em risco.
“O Brasil assumiu um compromisso internacional na Conferência do Clima, no ano passado, mas os números atuais indicam que estamos indo na direção contrária do que é necessário para cumprir o acordo”, afirma o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães. Os dados estão em discussão hoje, em Brasília, em um evento promovido pelo Ministério de Meio Ambiente.
O desmatamento na Amazônia é o maior dos últimos quatro anos. De agosto de 2014 a julho de 2015, a taxa de corte raso foi de 6.207 quilômetros quadrados, o que representa um aumento de 24% em relação ao período anterior.
A mudança no uso da terra ainda é a principal causa da emissão dos gases estufa no Brasil. Com o desmatamento da floresta amazônica, o país coloca em xeque a ratificação do Acordo de Paris, que deve entrar em vigor em 30 dias.
Para mudar esse cenário, uma série de medidas é necessária. É preciso investir em fiscalização, principalmente das áreas não designadas, e monitoramento da aplicação de políticas públicas que incentivem a conservação.
Além disso, é preciso abraçar a discussão sobre o fim do desmatamento, tanto o legal quanto o ilegal.  Um artigo científico recém-publicado por pesquisadores do IPAM e da Universidade Federal do Pará indica que há seis grandes obstáculos para que o desmatamento zero seja alcançado, e para cada um deles uma estratégia diferente precisa ser colocada em prática.
“O fim do desmatamento na Amazônia é urgente se quisermos ter um clima mais equilibrado e benéfico para a região, para a agricultura e para o país. Para chegar lá, será preciso ir além do comando e controle”, explica o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho. “A conservação da floresta amazônica terá de ser compensada financeiramente. E o caminho mais promissor é o mecanismo de REDD+, atualmente em discussão no âmbito da Convenção de Mudança Climática da ONU.”
O IPAM propõe um sistema simples de distribuição de benefícios de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), chamado de “estoque-fluxo”. Por este sistema, os Estados que reduzirem as emissões por desmatamento e mantiverem as florestas conservadas seriam beneficiados.
“Nós temos competência, capacidade e determinação para que o desmatamento da Amazônia seja controlado e o Brasil seja um manancial de boas práticas na gestão de florestas”, diz Guimarães. “Ao unirmos todas essas características, o país pode ajudar o mundo no controle das mudanças climáticas.”
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) é uma organização científica, não governamental e sem fins lucrativos que há 21 anos trabalha pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, de modo a gerar prosperidade econômica, justiça social e a conservação da integridade funcional dos ecossistemas da região.
Conheça mais em ipam.org.br.

Assessoria de imprensa - via JC online.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Acordo de Paris é insuficiente para frear o aquecimento global

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – Um grupo internacional de especialistas alerta que, caso não sejam adotadas medidas mais drásticas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa do que as estabelecidas no âmbito do Acordo de Paris, o teto considerado seguro para o aquecimento global – de 2 ºC acima dos níveis pré-industriais até o final do século – pode ser alcançado já em 2050.

A conclusão está no relatório "The Truth About Climate Change". (A verdade sobre a mudança climática), divulgado no dia 29 de setembro. A análise foi coordenada por Robert Watson, ex-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os autores do documento está José Goldemberg, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da FAPESP.


Acordo de Paris é insuficiente para frear o aquecimento global, diz relatório Medidas mais drásticas para reduzir a emissão de gases estufa serão necessárias para evitar que o planeta esquente mais de 2 °C até o fim do século, aponta análise coordenada por ex-presidente do IPCC que tem José Goldemberg entre os autores (imagem: NASA/NOAA)

“O documento é um alerta de que não podemos ficar confortáveis apenas com os compromissos assumidos no Acordo de Paris. Mostramos que mesmo se todas as metas para 2030 forem cumpridas não será suficiente para evitar o aquecimento acima de 2 °C. E parte dos compromissos assumidos pelos países depende de condições externas, como financiamento”, disse Goldemberg.

Em entrevista coletiva concedida pela internet, Watson ressaltou que, além de pressionar governos e empresas para adotarem medidas que visem reduzir as emissões, cada cidadão dever rever seus hábitos e dar sua contribuição. “Precisamos avaliar como estamos usando a energia em nosso dia a dia, aumentar a eficiência energética de nossa casa, preferir formas alternativas de transporte em detrimento dos carros individuais”, afirmou.

No relatório, os especialistas disseram haver ainda muitos mal-entendidos sobre o tema – e também muita desinformação disseminada de forma deliberada –, o que leva um grande número de pessoas a entender as mudanças climáticas como algo “abstrato, distante e até mesmo controverso”.

Para os cientistas, no entanto, não restam dúvidas de que o planeta está aquecendo – e ainda mais rápido do que se previa. Apesar das evidências científicas incontestáveis, afirmam, iniciativas para minimizar a mudança do clima têm sido postergadas e as emissões de gases-estufas continuam a crescer, o que torna o combate ao problema cada vez mais caro e difícil.

“O apoio da sociedade será crucial para acelerar as medidas de combate ao aquecimento global. Portanto, as questões seguintes têm como objetivo esclarecer mal-entendidos sobre as mudanças climáticas e sobre o Acordo de Paris”, apontaram os cientistas no relatório.

O documento reconhece que o Acordo de Paris foi bem-sucedido e representa um “passo decisivo para que sejam tomadas medidas coletivas relacionadas ao clima global”. O objetivo de longo prazo é manter o aquecimento global abaixo de 2 ºC – o mais perto possível de 1,5 ºC – até o final do século. Acima desse teto, segundo estimativas feitas pelo IPCC, cresceriam rapidamente os riscos associados a eventos climáticos extremos e à elevação do nível dos oceanos.

Em 2015, a temperatura média do planeta já superou a marca de 1 °C acima dos níveis registrados na época pré-industrial. Para não extrapolar o limite proposto para o fim do século, seria necessário reduzir em 22% a emissão de gases de efeito estufa até 2030.

O relatório ressalta, contudo, que, no melhor dos cenários, se todas as metas propostas pelos 195 países forem totalmente cumpridas, as emissões devem se manter nos níveis atuais: 54 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (ou CO2eq, medida usada para comparar as emissões de diversos gases de efeito estufa baseada na quantidade de CO2 que teria o mesmo potencial de causar aquecimento global) por ano.

Se apenas forem cumpridos os compromissos assumidos de forma incondicional pelos países, ou seja, aqueles que não dependem de financiamento externo, transferência de tecnologia ou capacitação, as emissões devem crescer 6% até 2030. Sem o Acordo de Paris seria ainda pior: o aumento seria de 30%.

Metas brasileiras

No dia 21 de setembro, o presidente Michel Temer entregou ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, documento no qual o Brasil ratifica o Acordo de Paris. O país se comprometeu, de forma incondicional, a reduzir as emissões de gases-estufa em 37% até 2025, na comparação com os níveis registrados em 2005; e em 43% até 2030.

Para Goldemberg, a meta é “adequada”. Ele ressalta, no entanto, que por enquanto trata-se apenas de uma “manifestação de intenção”, pois não se especificou de que forma os objetivos serão alcançados.

“Faz parte da INDC [Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês] brasileira, por exemplo, o reflorestamento de 12 milhões de hectares da Amazônia. Mas não se sabe quem vai plantar as árvores e com qual dinheiro. Há insegurança de como isso será feito”, disse.

Ainda segundo Goldemberg, no caso brasileiro, o maior impacto caso o limite de 2 °C seja ultrapassado é a savanização da Amazônia. “Esse fenômeno alteraria o clima em todo o país, com grande prejuízo para a agricultura. A chuva que cai aqui no centro-sul vem da Amazônia”, ressaltou.
Goldemberg lembrou ainda os prejuízos associados à inundação de cidades costeiras, como Santos.

Um estudo apoiado pela FAPESP estimou que o nível do mar na cidade pode aumentar entre 18 e 30 centímetros até 2050 e entre 36 centímetros e 1 metro em 2100. Sem medidas de mitigação e adaptação, os danos econômicos podem chegar a R$2 bilhões (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/21997). 

O relatório The Truth About Climate Change está disponível no site da Fundação Ecológica Universal dos Estados Unidos (FEU-US), sediada na Argentina, em: http://feu-us.org/the-report.